Para que houvesse a expansão do Jornal de Jales pela região, foram necessários esforços dos próprios cidadãos e de uma certa influência da classe política em tempos de censura e limitação de estrutura para jornalistas. E Deonel esteve ali, fazendo a roda funcionar por 43 anos.

“Onde? Quem? Quando? Por quê? Como?” É comum pensar que a função do jornalismo é apenas responder a essas perguntas. A principal característica do jornalismo cidadão é a escolha conjunta, pelo repórter e pela população, de pautas pertinentes para o cotidiano da comunidade que será noticiada. Trata-se de promover uma cidadania participativa, pois o profissional oferece dados que estimulam o pensamento crítico daquele grupo de pessoas. Ao mesmo tempo, ele recolhe informações para a produção e a divulgação jornalísticas.

E é esse tipo de jornalismo que une o cidadão e o jornalista.

Pensando no propósito de contar sobre a história do jornalismo em Jales, por meio da Lei Paulo Gustavo (Lei Complementar nº 195, de 08 de julho de 2022) e juntamente com os companheiros de projeto Diogo Campanelli, William Milaré, Mariana Leão, Fernanda Burilli e David Takaki, produzimos um documentário em torno da trajetória e legado de Deonel Rosa Júnior. Tivemos um amplo amparo de material histórico para a realização do projeto. Buscamos reproduzir os principais desdobramentos que fizeram do Jornal de Jales o que é hoje. E parte disso foram pessoas próximas ao Deonel que contribuíram com entrevistas individuais: meu pai e renomado advogado Carlos Alberto Britto Neto, a jornalista e aprendiz do Deonel, Josiane Bomfim, e o jornalista e companheiro de longa data Chico Melfi.

No documentário, fica explícito que é insustentável contar a história do jornalismo e da imprensa da cidade sem conectar a imagem de Deonel com todo o processo. As fotografias que incluímos no material conseguem provar isso. Por anos, o jornalista foi um dos maiores exemplos de figura conciliatória no âmbito da comunicação da cidade. A presença e a voz de Deonel esteve por todo o contexto histórico e cultural, desde a cobertura de fatos sobre a ditadura militar, prisão do deputado federal Roberto Rollemberg em 1967, até a visita de governadores como Mário Covas e Geraldo Alckmin, cobertura total de eventos municipais simbólicos e tradicionais da cidade como a então FACIP (hoje EXPO Jales).

Equipe do documentário coletando material histórico no Jornal de Jales

NASCIMENTO DO JORNAL

O Jornal de Jales foi fundado pelo jornalista e professor Chico Melfi e o bancário José Roberto Moreira, em 10 de outubro de 1971. O primeiro editorial afirmava que o veículo nascia para lutar pelo desenvolvimento da cidade. Para isso, contaria com a ajuda da população no levantamento das questões importantes que precisavam ser discutidas com os governantes e para ações que resultam em medidas concretas para a melhoria daquela sociedade.

Desde a primeira edição, em 1971, até a inauguração da ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, em 29 de maio de 1998, o Jornal de Jales fez a cobertura completa. Tudo isso com notícias, reportagens, editoriais e artigos escritos por jornalistas, especialistas e até pelo cidadão comum.

Já no início da década de 1980, o Jornal de Jales foi vendido para um jornalista: o lendário Deonel Rosa Júnior. Fato é que ele deixou um legado na imprensa de Jales, onde morou desde maio de 1970. Licenciado em Estudos Sociais, Deonel atuou no jornalismo e na rádio jalesense desde a década de 70 e foi Diretor proprietário do Jornal de Jales desde 1981.

Deonel também foi o fundador do Fórum da Cidadania de Jales, grupo comunitário formado por entidades de classe, clubes de serviço, associações profissionais e instituições filosóficas. Foi editor e mantenedor do Projeto Memória – iniciativa da jornalista Ayne Regina Gonçalves – que consistiu na publicação de fascículos mensais contando a história de Jales através do depoimento de pessoas entrevistadas pelo projeto, que ainda moram na cidade. Deonel foi Venerável-Mestre da Loja Maçônica Coronel Balthazar, conquistando grau 33 na Maçonaria.

É difícil, mas necessário e, principalmente realizável, reconhecer e valorizar o trabalho de jornalistas como Deonel. Um jornalista que existe porque a comunidade jalesense precisou e ainda precisa da livre circulação de informações. Nossa sociedade constituiu um profissional que fizesse os relatos não testemunhados pelo restante da comunidade. Um profissional que relatasse a verdade e assegurasse a credibilidade das informações. É uma tarefa árdua esta de valorizar o jornalismo depois que o sensacionalismo e a espetacularização assumiram o valor central desta atividade responsável por ter ajudado a construir a moderna esfera pública que conhecemos. Depois da preguiça e o descompromisso ético ter tomado conta da ação de alguns. É fundamental reafirmar a importância social e a relevância histórica de jornalistas e do jornalismo cidadão.

O jornalismo é uma das poucas atividades do mundo cuja maior recompensa não chega integralmente ao bolso, mas à alma […] O jornalismo é outra praia. O grande ganho de quem, um dia, batucou profissionalmente uma máquina de escrever e que hoje, tangido pela modernidade, pilota os comandos de um microcomputador, é o legado para os pósteros, a sensação de contribuir para melhorar a vida de sua comunidade, de ter feito algo de útil para seus semelhantes (Deonel Rosa Jr., Projeto Memória Nº74, abril de 2001, p.2).

O documentário, viabilizado pela Lei Paulo Gustavo, será publicado no canal do YouTube homônimo e amplamente divulgado nas redes sociais. Além disso, o material será disponibilizado para instituições de educação, escolas de ensino médio e faculdades, juntamente com um material escrito sobre os desafios da profissão de jornalista.

Por Marina Nossa Neto
(Jornalista e diretora do documentário “Vozes do Interior”)

Instagram: @vozesdointeriordoc
Youtube: Vozes do Interior – O Legado de Deonel Rosa Jr.

Mariana e Diogo realizando capturas de imagens para o documentário
David Takaki, William Milaré, Mariana Leão, Chico Melfi, Fernanda Brurilli, Marina Neto e Diogo Campanelli / Fotos: Josiane Bomfim, Arquivo pessoal

Comments are closed.