MEDICINA/EVIDÊNCIA

O passado respira nas ruas, nas praças e nos edifícios do centro das cidades. As pessoas que andam pelas calçadas procurando uma roupa ou um sapato novo para comprar, de repente pisam no Quinze de Novembro. Quem vai ao restaurante corre o risco de almoçar com o Duque de Caxias, ou algum outro nobre. Os desatentos que tropeçam na Princesa Isabel não caem na Rua do Tombo, mas em lugares que já nem existem mais, como o Ouvidor ou o Lavradio.
Mas, os sonhadores e os poetas que estiverem à busca de inspiração precisarão permanecer nos arrabaldes, entre Jacarandás e Pássaros. E, ironicamente, a decantada expressão mais linda da língua portuguesa, Saudade, não reside em outro lugar senão à frente dos cemitérios, a caminho do famoso e nada original “último adeus”. Infelizmente ainda não se conhece uma metrópole, ou um vilarejo sequer, que batize seus logradouros com os olhos no futuro.
O bom mesmo seria passear pela Rua do Futuro, namorar na Avenida da Esperança, esperar o pôr do sol deitado na grama da Praça da Boa Nova, ou fazer nada na calçada da Rua do Aguardo. Na parte mais importante da cidade, as placas indicativas deveriam ser construídas com o mesmo material das lousas, permitindo a troca de nomes todos os dias. Nela, os prometedores profissionais teriam seus nomes apagados com a mesma rapidez que se esvai sua última tentativa de enganar seus próprios vizinhos.
Enquanto essa nova cidade não nasce, vive-se em bolhas, como nos lembra Fernanda Torres (“Caetano, Marisa Monte e outros mostram que algo se move no lodaçal do Brasil”; folha de S. Paulo, 6 de julho de 2022) e nelas se espera junto com aqueles que preferem a companhia daqueles sonhadores e poetas ouvindo o canto dos pássaros. Nessa bolha da esperança também residem os dissonantes, mas só aqueles que já aprenderam a conviver com opiniões sem puxar armas.
Na cidade do futuro o que é bom para um é bom para todos, como tem sido a classe de remédios conhecida como inibidores da SGLT2. Eles, apesar de terem sido concebidos para tratar diabetes, são ótimos também para o tratamento de insuficiência cardíaca e até de hipertensão (Empagliflozin for Heart Failure With Preserved Left Ventricular Ejection Fraction With and Without Diabetes Gerasimos Filippatos, et al Circulation 2022 June 28).

Photo taken in Dhaka, Bangladesh
  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Mestre em Medicina pela FAMERP, Preceptor e Médico do Ambulatório de Hipertensão do Departamento de Clínica Médica da FAMERP, São José do Rio Preto)

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