Para Rita Lee,Vou dar um tempo, preciso distração

A vovó reclamava da modernidade, mas procurava ficar por dentro da nova geração. Só sua filha não a levava a sério, cheia de mistério com um tal de Roque enrow. Tadinha delas! Não ficaram pra semente, pintadas de índio num eterno domingo. O tempo passou e chegou nossa hora de ficar patéticos sem nos livrar de uma vida vulgar. A geração Baby Boomer queimou sutiã, ensinou usar a pílula e gozar sem medo, mas morreu esperando mais da nossa geração, a X. Pediu para não tolerarmos a tirania, valorizar igualmente homens e mulheres, detestar a rotina e priorizar a felicidade antes da carreira profissional. Chegada nossa vez, só conseguimos repetir as mesmas velhas queixas, sendo mutantes, mas – no fundo – sempre sozinhos seguindo nossos caminhos.

Tá certo: criamos a tecnologia e construímos um espírito empreendedor, mas estamos perdidos. Não compreendemos nem os nossos filhos y e z. Enquanto a aflição da vovó se resumia a ver sua filhinha morar com um tal de Roque, dançar o dia inteiro, só estudar pra passar e fumar com pouca idade, a nossa é não saber como enfrentar essas mudanças desfilando na nossa frente. Só nos resta emprestar o carro pro filhão levar a garota ao cinema. Assim ele não faz perguntas, não cria problema e nem dá um flagra na nossa burrice.

Nossa galera já se reuniu pra fumar, beber e curtir lança-perfume, afinal, quanto mais proibido, mais fazia sentido a contravenção. Mas hoje rezamos pedindo pra deus nos livrar da própria praga e da raiva de não termos assumido e sumido. Somos as antigas ovelhas negras da família, chorando perdidas, procurando nos encontrarmos. Dentro das nossas casas estão trintões levando uma vida sossegada, na sombra e água fresca, completamente sem saber. Em vez de nós, são eles os cansados de ouvir opiniões de como ter um mundo melhor, mas não saem de cima, nem de baixo das nossas asas. Nossas filhas dizem que todas as mulheres querem ser amadas, sejam elas filhas-de-maria ou mães de puta. Mas como, se nossos filhos não sabem que nem toda feiticeira é corcunda e que nem toda brasileira é bunda?

Depois de qual estrada começará a grande avenida? Sei lá! Estamos doidos, perdidos e mal pagos. Não temos hora pra morrer e temos medo de sonhar porque a realidade nos enche de medo. Nunca descobriremos qual é a moral, nem qual vai ser o final. Agora que já envelhecemos, sabemos como é estranho ser humano nessas horas de partida. É, bródi, a gente se olha e não sabe se vai ou se fica.

Somos a geração que mudou o mundo e agora não sabe o que fazer com ele.

(metade das frases dessa crônica foi roubada de Rita Lee.

A outra metade foi inspirada nela)

  • Dr. Manoel Paz Landim (Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto) 

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