Quem já precisou de uma segunda opinião médica fatalmente ouviu o profissional consultado criticar a conduta do primeiro, num ato de infração ética e de falta de educação. Qualquer manual de convivência recomendaria uma conduta diferente: quem identifica o equívoco deve conversar diretamente com o colega e conversar. Afinal, os dois podem estar errados. E isso é o mais provável, embora a falta de modéstia e a arrogância não deixe nenhum dos dois refletirem de forma isenta.
A crítica e a fofoca dão muito mais ibope, seja nas mesas de boteco ou na macarronada de domingo. Falar de amenidades e contar piadas é mais gostoso quando se dá nome aos bois. Se a cunhada é loira, ou o vizinho é português, basta substituir os personagens da anedota para garantir a risada. O assunto nunca acaba quando se deixa de lado o hábito saudável de rir de si próprio e se senta sobre o próprio rabo para enxergar melhor o defeito dos outros.
Dito tudo isso fica difícil aceitar a existência do tal crítico profissional. Não! Não falo daquela tia solteirona, mas daqueles sujeitos pagos pelos jornais para falar mal dos filmes, pinturas e das peças teatrais (principalmente das mais apreciadas pelo público). Esses caras adoram falar mal do trabalho alheio. E, cá entre nós, na maioria das vezes com razão. As produções artísticas estão sofríveis. Quem se dispuser a perder tempo – e a expressão correta é essa mesmo: perder tempo – na frente da TV vai se deparar com o ator e a atriz fazendo o mesmo papel de trinta anos atrás, só mudando o nome da personagem. No cinema acontece o mesmo, com “artistas” em apelações explicitas.
Até os telejornais estão repletos de canastrões. Os apresentadores não passam credibilidade às notícias (lidas) apesar de tentarem impor gravidade a elas. As novelas, então, nem se fala! São pródigas nisso. Os textos são mal ajambrados e o elenco é formado por corpos, não por interpretações. A profissão da vez é modelo/atriz. Esse pessoal parece ter aprendido o ofício com Neymar craque-de-vidro e, como ele, não convencem ninguém. (Não tenho mais paciência para assistir seu mise-en-scène nos campos. Se joga na área e a primeira atitude depois de se levantar é procurar sua imagem no telão. Um saco!).
Pra conhecer uma interpretação verdadeira proponho assistir ao Filme O pai (The Father), com Anthony Hopkins. É só um exemplo do porquê ter merecido o Oscar se nos restringirmos a este desempenho, e de fazer jus ao título de cavaleiro do império Inglês (Sir). Especialmente a última cena é maravilhosa, como poucas já vistas. Até um ogro vai às lágrimas diante de tanta beleza. Pra quem ache elitista, há uma outra opção bem mais popular. A surpresa fica por conta de uma série chamada Missa da Meia-Noite (Midnight Mass). Há um diálogo entre duas personagens sobre a morte e o pós morte, num inteligente contraponto entre a visão de uma católica e de um ateu.
Não sou crítico de cinema, de teatro ou de televisão. Quando estudei teatro descobri algumas coisas sobre interpretação e esse conhecimento me permite não só diferenciar performances, mas identificar certos tipos de (mau) fingimento nas telas, nos palcos e fora deles. Fiquei mais seletivo até em relação a amigos.

Reprodução/LionsgateAnthony Hopkins e Olivia Colman em cena de “Meu Pai”

Dr. Manoel Paz Landim
(Cardiologista, Professor da FAMERP de São José do Rio Preto)

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