CHUVAS E TROVOADAS- Embora vento frio e chuva fina tenham marcado a semana, o tempo foi quente na Câmara Municipal. A mudança de temperatura teve a ver com dois assuntos polêmicos. Em primeiro lugar, a discussão e votação do parecer do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo a respeito das contas do ex-prefeito Flávio Prandi Franco relativas ao ano de 2018. E, de outro, a votação do Projeto de Iniciativa Popular propondo a revogação pura e simples da Lei Complementar 350/21, criando a Taxa do Lixo e mais duas contribuições, tributos estes embutidos nos carnês do IPTU.
PLATEIA- Ao contrario das reuniões ordinárias normais, assistidas por um ou outro setorista de órgão de imprensa, desta vez o público compareceu em número bastante expressivo, atraído principalmente pela votação do Projeto de Iniciativa Popular. A direção da Câmara escalou um dos funcionários para distribuir senhas com o objetivo de evitar superlotação.
FRISSON– Depois da leitura das matérias do Expediente (Indicações, Requerimentos e Moções), o presidente Bismark Kuwakino (PSDB) começou a Ordem do Dia, colocando em discussão e votação o parecer do TCE sobre as contas de Flá que, por sinal, estava presente.
REGRA DO JOGO – Para rejeitar o parecer do TCE, desfavorável à administração Flá por conta dos malfeitos da ex-tesoureira Érica Carpi, eram necessários os votos de sete vereadores, ou seja, 2/3 da casa. Até as cinco horas da tarde, tudo indicava que Flá teria os votos necessários, pois, declaradamente contra ele, estavam somente Rivelino Rodrigues e Ricardo Gouveia (PP) e Andrea Moreto (Podemos). Até o vereador Elder Mansuelli, que não comparecera à reunião anterior, era tido como voto certo a favor de Flá na medida em que, segundo consta, incluiu o ex-prefeito em recepção festiva em sua casa dois dias antes.
ATAQUE – Durante a discussão do parecer do TCE, Rivelino Rodrigues, atual líder da administração municipal, foi para o ataque. Reprisou argumentos já usados na sessão anterior. A postura de RR começou a incomodar a plateia, desconfiada de que ele estava esticando a discussão sobre a questão do TCE/Flávio com o fim de ganhar tempo para encerrar a reunião sem a discussão do Projeto de Iniciativa Popular. Como se sabe, uma reunião ordinária não pode durar mais do que quatro horas. Foi interrompido várias vezes pela plateia revoltada.
DEFESA- Os demais vereadores, com exceção de Andrea, manifestaram-se francamente contra o parecer. Em defesa de Flá, vereadores não entendiam porque, se a ex-tesoureira Érica Capri, estava fazendo estripulias desde 2008, só ele deveria ter as contas rejeitadas.
TREMEDEIRA – O mais contundente foi Deley Vieira, lembrando que, como membro da CEI que investigou os fatos, ouviu da boca da própria Érica que, tendo começado desviando R$50,00, chegava a tremer quando apareciam auditores do Tribunal de Contas na Prefeitura. Como nunca ninguém disse nada, ela foi aumentando os saques até montar três lojas com dinheiro público. Desta forma, segundo Deley, a culpa não foi do prefeito Flá nem dos prefeitos anteriores, como a própria Justiça reconheceu, tirando-os do processo da operação Farra do Tesouro da Polícia Federal , mas do Tribunal de Contas, que deixou a tesoureira deitar e rolar, sem nunca ter contestado nada.
TESTEMUNHO – Por sua vez, embora estivesse presidindo a sessão, o vereador Bismark fez questão de ir à tribuna para defender a administração Flá. Ele lembrou, entre outros detalhes, que, apesar de todas as dificuldades, o ex-prefeito desenvolveu o maior programa de recapeamento de ruas da história de Jales. Carol Amador, Bruno de Paula, Hilton Marques e Zanetoni também anunciaram que votariam contra o parecer do TCE.
BOI VOADOR –Encerrada a fase de discussão, passou-se à votação. Como diz a lenda, em reuniões de Câmara até boi voa. Não deu outra. No momento da chamada nominal para decisão, veio a surpresa. Para espanto dos presentes, Elder se absteve. Com isso, Flá teve maioria absoluta, ou seja, metade mais um dos vereadores (Carol Amador/MDB, Bismark e Bruno de Paula/PSDB, Hilton Marques/PT, João Zanetoni/PP e Deley Vieira/União Brasil). Mas, apesar da vitória moral, ele não teve os sete votos necessários (maioria qualificada) para rejeitar o parecer do TCE.
SOLIDARIEDADE – Embora chateado com o resultado, pelos reflexos em família, especialmente em relação à mãe, de 79 anos, esposa, filhos, irmãs e irmãos, Flá disse à coluna que segurou a onda graças à imensa solidariedade de centenas de amigos pessoais, correligionários e simpatizantes expressa através das redes sociais e pessoalmente da noite da votação, varando a madrugada, e nos dias subsequentes.
FAIR PLAY – Sobre a abstenção do vereador que poderia lhe dar o sétimo voto, o ex-prefeito foi econômico: “vida que segue…”