De quatro em quatro anos o eleitorado comparece às sessões eleitorais e diante da urna eletrônica clica os nomes dos candidatos que desejam ver na Chefia do Executivo e ocupando cadeiras no Poder Legislativo.
Ao exercer o direito de voto resguardado pela Constituição, os eleitores o fazem na expectativa de que seus preferidos, se vitoriosos, farão jus à confiança recebida, exercendo os mandatos tendo como linha mestra o interesse público.
Quando isso não ocorre, ou seja, quando os eleitos tomam posições ao arrepio das mais legítimas aspirações populares, o sentimento decorrente de tais posturas é um misto de decepção e ressaca.
Se a chamada bola nas costas é muito flagrante, a frustração dos eleitores acaba evoluindo para o inconformismo e, em uma terceira dimensão, para a hostilidade franca e aberta.
É o que vem acontecendo atualmente no município de Jales desde o dia em que os carnês do IPTU embutidos com a taxa do lixo e outras duas contribuições começaram a ser entregues.
A primeira explosão de descontentamento aconteceu nas redes sociais, mas face mais visível desse estado de espírito foi uma reunião da Câmara Municipal realizada no dia 17 de janeiro, às 10 horas da manhã, em plena segunda-feira, quando, sem prévia combinação, pessoas de todos os segmentos apareceram do nada e tomaram grande parte das poltronas das galerias.
Na verdade, o objetivo era protestar contra o IPTU, mas quando souberam que o Executivo enviara dois projetos para exame dos vereadores —criando secretarias e cargos em comissão e fixando novos critérios para diárias de agentes políticos sem a contrapartida da prestação de contas — o ambiente pegou fogo.
Foi aí que a população deu mais uma prova de maturidade e de que acredita na democracia, apelando para o Fórum da Cidadania, instância comunitária formada por 17 entidades.
Tais lideranças abraçaram a causa, mas preferiram o caminho da lei e da ordem, apresentando um Projeto de Lei Complementar de Iniciativa Popular propondo a revogação da contestada lei que criou a taxa e as contribuições.
As 2.645 assinaturas de apoiamento à propositura entregues à presidência da Câmara Municipal foram a resposta mais adequada a quem, na opinião dos contribuintes, fez gol contra.
Entre chorar o leite derramado ou ficar berrando da arquibancada sem influir no resultado, os que se consideraram prejudicados preferiram ir à luta, mas de forma pacífica, convictos de que, como cantou Geraldo Vandré no final dos anos 60, “quem sabe faz a hora/não espera acontecer”.