Nos últimos dias, a declaração da candidata a vice-prefeita de São Paulo sobre a saúde da mulher trouxe à tona um tema que transcende a política eleitoral e nos leva a refletir sobre o papel das mulheres no debate público e suas implicações mais profundas. Quando uma mulher, que almeja representar milhões de outras, faz afirmações sobre um assunto tão delicado como a saúde feminina, isso carrega um peso singular.
A saúde da mulher é uma pauta histórica de luta e resistência. Durante décadas, mulheres e aliados têm trabalhado arduamente para que questões como o acesso ao atendimento ginecológico, os direitos reprodutivos e a igualdade no tratamento de saúde sejam respeitados. Quando uma figura pública feminina faz declarações que parecem desconsiderar essa luta, é compreensível que haja perplexidade e, em muitos casos, indignação.
O fato de uma mulher, especialmente em uma posição de poder ou aspiração política, falar sobre saúde feminina com insensibilidade ou desinformação pode ser visto como um retrocesso. O que se espera de lideranças femininas é justamente o oposto: uma compreensão empática e profunda das questões que afetam o corpo e a vida das mulheres. Suas falas e decisões não devem apenas refletir o que é politicamente oportuno, mas também estar alinhadas com as reais necessidades das mulheres, especialmente aquelas mais vulneráveis.
Por outro lado, é preciso ponderar que a representatividade por si só não garante uma defesa automática das causas femininas. Ter uma mulher ocupando uma posição de destaque, seja na política ou em qualquer outra área, não assegura que as pautas essenciais à igualdade de gênero serão tratadas com a devida prioridade. O compromisso com os direitos das mulheres deve ser medido não apenas por quem fala, mas pelo conteúdo e impacto de suas palavras.
O episódio nos convida a refletir sobre a importância de eleger lideranças atuantes e verdadeiramente comprometidas com os direitos humanos, em especial os direitos das mulheres. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer na busca por um sistema de saúde mais inclusivo e sensível às demandas femininas. Para isso, é fundamental que os discursos políticos venham acompanhados de ações concretas, e que as declarações não soem como meras estratégias eleitoreiras.
Neste momento crucial, as eleitoras e eleitores devem estar atentos. A voz feminina na política
é necessária e poderosa, mas é fundamental que essa voz ressoe a verdadeira luta das mulheres,
e não um discurso que possa minar anos de avanços e conquistas.