Os estudiosos da vida pública costumam dizer que candidatos que se elegem para o Poder Executivo nos três níveis —federal, estadual e municipal —têm sempre um período de refresco depois que se sentam na cadeira da responsabilidade.
De acordo com cartilha não escrita, mas aceita sem reservas, nos primeiros 100 dias após a posse quase tudo é permitido a quem ganhou eleições.
É o chamado “tempo de graça”, no sentido religioso da expressão, período em que quem colocou os eleitos no poder e até quem votou contra limita-se a acompanhar, sem juízo de valor, os primeiros movimentos dos banhados pelas urnas.
Depois dessa espécie de lua de mel com a opinião pública, entra em campo a chamada turma da visão crítica, aquele grupo que usa a lupa da observação para acompanhar desempenhos tanto no andar de cima como na chamada planície.
Surpreendentemente, contrariando tais usos e costumes, a atual administração municipal passou não somente os 100 dias iniciais, mas quase o ano todo sem ser incomodada.
Na Câmara Municipal, por exemplo, graças a ampla maioria constituída desde a campanha eleitoral, a situação aprovou todos os projetos de lei sem grande dificuldade. A resistência da oposição se limitou a três edis.
Fora dos limites do Legislativo, a tranquilidade também reinou. Exceto uma ou outra intercorrência como, por exemplo, a ruidosa manifestação defronte à Prefeitura, depois de estridente carreata pelas principais ruas e avenidas da cidade, quando comerciantes de vários segmentos impedidos de trabalhar durante o auge da pandemia pediram providências, o prefeito Luís Henrique Moreira (PSDB) navegou em águas calmas.
Mas, neste início do segundo exercício de mandato, a partir do momento em que os carnês do IPTU com novas taxas embutidas começaram a ser distribuídos, os contribuintes, que pareciam deitados em berço esplêndido, começaram a tirar a equipe administrativa da zona de conforto.
Usando intensivamente as redes sociais, os proprietários de imóveis perceberam que a conta que lhes foi apresentada tinha sal além do palatável e botaram o bloco na rua.
O tom de confronto tomou conta da cidade e ganhou corpo com reuniões abertas em que os insatisfeitos mostraram a cara, pintados para a guerra. Ao mesmo tempo começaram a circular abaixo-assinados conclamando o povo a não pagar o IPTU recheado com taxas.
Em síntese, trata-se do primeiro teste de fogo para a administração municipal desde a posse em 1º de janeiro de 2021. Aguardemos os próximos capítulos.