Se você está lendo este editorial, você não faz parte dos quase 10 milhões de analfabetos no Brasil, segundo dados do IBGE. Quando se fala em alfabetização, logo se pensa em crianças e, falando delas, números alarmantes foram divulgados essa semana.
Um estudo feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que o analfabetismo de crianças entre sete e nove anos dobrou entre 2019 e 2022 no Brasil. Além da carência educacional ligada ao passivo histórico, a situação preocupante foi ampliada pela pandemia, já que um terço das instituições da rede pública de todo o país não teve aulas remotas entre o início de 2020 e o fim de 2021.
Os dados mostram que já se faz mais que necessário um plano nacional único de alfabetização para reduzir os danos na vida dessas crianças. De encontro a isso, o Governo Federal lançou, em junho, o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que vai financiar ações concretas dos estados, municípios e Distrito Federal para a promoção da alfabetização de todas as crianças do país.
O objetivo é garantir que 100% delas estejam alfabetizadas ao fim do 2º ano do ensino fundamental e que, até 2026, sejam investidos R$ 3,6 bilhões na ação.
E já que hoje comemoramos o Dia dos Professores, precisamos falar deles e da qualificação e a valorização que deveria estar no topo das prioridades para que o país recupere milhões de crianças que estão tendo o direito constitucional a uma educação de qualidade negado.
Nós, enquanto um veículo de imprensa, continuamos no nosso papel de informar. Mantendo o formato que nos leva até a sua casa há 52 anos, incentivamos a leitura. Aliás, sobre essa questão também temos dados que podem te assustar.
Estudos de fabricantes de papel editorial, esse que serve para imprimir nosso jornal, revistas e livros, inclusive os didáticos, indicam que a Argentina tem consumo anual de 16 quilos de papel per capita; Uruguai, 15.5 quilos; Peru, 12 quilos; Colômbia 11 quilos e Brasil apenas 5.5 quilos. Se a comparação for com potências da Europa como França, Alemanha ou Inglaterra, todos estão acima de 50 quilos de consumo por ano, também per capita.
Fica fácil concluir que analfabetos não leem, não se informam e ficam mais distantes do conhecimento. O processo fica ainda mais difícil quando a maioria se cala diante dos baixos salários dos professores, péssimas condições das escolas, carga horária insuficiente, currículos escolares ultrapassados, insegurança nas salas de aula, aumento da criminalidade e grande expansão do consumo de drogas.
Estamos no século 21, falando de grandes tecnologias, de inteligência artificial, mas não conseguimos nos livrar do analfabetismo. Saber ler e escrever é fundamental para uma vida digna: imagine não conseguir pegar um ônibus, escolher um remédio ou escrever sobre o que sente?
Essa situação pode ser revertida com educação e nós, cumprindo o papel da imprensa, seguiremos cobrando. Nosso sonho é que em 2024, nesta mesma data, possamos comemorar o Dia dos Professores com mais gente podendo ler não só o Jornal de Jales, mas tantas coisas importantes do dia a dia.
E como diria o educador e filósofo brasileiro, Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo.”