Nos primórdios de nossa cidade, por conta da decisão do fundador Euphly Jalles de disciplinar o crescimento do povoado a partir de minifúndios, a cultura do café foi o carro-chefe da economia local.
Numa espécie de avant-premiere do conceito de agricultura familiar, hoje tão exaltada por candidatos, tirava-se o sustento do cultivo da rubiácea a partir do trabalho de pais e filhos.
Na outra ponta, atentos observadores da cena regional passaram a comercializar o café, então conhecido como ouro negro, e fizeram fortuna.
Até que veio a geada de 1975 e, da noite para o dia, os cafezais viraram pó, obrigando tanto plantadores como comerciantes a se reinventarem.
Com a derrocada do café, a sociedade civil organizada da época constituiu o Grupo de Estudos para o Desenvolvimento de Jales, cujos integrantes passaram a se reunir tentando encontrar saídas para o impasse.
A diversificação agrícola a partir da fruticultura e a expansão da eletrificação rural alimentavam as discussões nos encontros entre técnicos e agricultores.
Na verdade, o naufrágio econômico só foi evitado porque, cinco anos antes da geada, foi implantada em Jales a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, atraindo jovens de classe média da região e estados vizinhos.
O movimento gerado pela Faficle, que não tinha concorrentes tanto na região quanto fora dela, contribuiu para manter a cidade viva.
Essas reminiscências não são aleatórias. Ao contrário, servem de introdução para uma pergunta que não quer calar: na semana em que completa 81 anos, qual é a verdadeira vocação de Jales?
Há quem aponte a educação, mas em larga medida ouve-se de gente antenada que o ideal seria carrear esforços públicos e privados para a área de serviços, especialmente de saúde.
Alguns formadores de opinião entendem que se fossem acrescentados aos serviços já oferecidos — Santa Casa, que é hospital geral, e Hospital de Amor, especializado em tratamento oncológico— outros espaços de tratamento e cura, Jales poderia se diferenciar de suas vizinhas regionais.
Nesta medida, há que se louvar o extraordinário esforço de Clóvis Pereira, fundador e presidente do Jales Clube, que, aos 82 anos, vem direcionando todas suas energias para concretizar a instalação de um Centro de Tratamento de Doenças Raras.
Que os jalesenses de nascimento ou adoção juntem forças em torno de desafios como este.