Quase nenhum órgão da chamada grande imprensa tocou no assunto nem deu importância, mas o dia 3 de maio, quarta-feira, era uma data para ser celebrada com honras e papas.
Exatamente no dia 3 de maio de 1933, finalmente as mulheres brasileiras tiveram o direito de ir às urnas, podendo votar e serem votadas.
“Eleições mais livres que se verificaram no país”, registrou o tribunal superior da recém criada Justiça Eleitoral para a Assembleia Nacional Constituinte, cujos trabalhos começaram alguns meses depois.
Contam os historiadores que não foi fácil chegar até lá. A luta começou em maio de 1890 quando a jornalista e dramaturga Josefina Álvares de Azevedo levou a um teatro do Rio de Janeiro uma montagem de “O Voto Feminino”, encenação de um texto assinado por ela.
Na peça, casais de amigos da elite do então Distrito Federal discutem, em meio a ironias, os direitos das mulheres. Ao ridicularizar a chance de avanço feminino na política, os homens são rechaçados pelas mulheres. “Fique certo de que o domínio das calças está para acabar”, diz Inês, a mais veemente das personagens.
Como registrou a Folha, também lastreada em pesquisas dos historiadores, para decepção de Josefina Alvares de Azevedo, o “domínio das calças”, uma referência ao sufrágio exclusivamente masculino na recém instalada República Brasileira, durou mais quatro décadas.
Infelizmente, em 1933, quando as mulheres puderam votar pela primeira vez, Josefina, a precursora da luta, já não estava viva.
Pois bem, passados 90 anos e embora sejam maioria da população brasileira, as mulheres ainda continuam sendo subrepresentadas na cena política.
Por exemplo, na Câmara Federal, o índice de mulheres eleitas em (2023-2026), a representação feminina é de apenas 18% dos 513 deputados. No Senado, as mulheres são 12,3%. Já na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, as mulheres representam 23,5%.
Para não ir muito longe, é só verificar o quadro em Jales. Até hoje, com 82 anos de fundação, o eleitorado, majoritariamente feminino, só elegeu seis mulheres — Hilda Elias Rochel de Souza, Esmarlei Henrique de Carvalho Melfi, Aracy Murari, Pérola Cardoso e, na atual legislatura, Carol Amador e Andrea Moreto, ou seja, 20%.
Em termos regionais e talvez até nacionais proporcionalmente, a cidade campeã em prestigiar o voto em mulheres é Urânia. Nas últimas eleições municipais, dos 9 vereadores eleitos na vizinha cidade, 4 foram mulheres, ou seja 45% —Kátia Vitorelli (presidente), do Republicanos; Marinete Saracuza, do MDB; Maria Ribeiro, (Republicanos) e Márcia Cortes (PSDB).
Trata-se de um grande exemplo para o eleitorado das metrópoles e prova insofismável de que tamanho não é documento.

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