Giana Rodrigues

Quando pensamos que nossas ações não podem mudar a realidade do outro, ou que somos apenas um grão de areia no universo, não estamos valorizando de fato a capacidade que temos de transformação, principalmente se nos unirmos em torno de um ideal ou projeto.

Prova disso são as ações idealizadas pelo Padre Eduardo Lima e pelo médico jalesense Guilheme Pupim. Ao contar um pouco sobre as missões que desenvolvem anualmente em terras “distantes” e esquecidas pelos governos, levando saúde e dignidade a populações indígenas, gostaríamos de inspirar cada leitor a olhar seu entorno e ser agente de transformação, nos pequenos detalhes.

Mutirão de atendimentos em saúde e odontologia em São João das Missões (norte de MG)

PROJETO MALOCA

O PAP-Projeto de Assistência às Populações é uma organização não governamental (ONG), sem fins lucrativos, idealizada e fundada por alunos do curso de medicina da Faculdade de Ciências da Saúde de Barretos -FACISB em 2016, e atualmente, já com integrantes fundadores formados em sua diretoria, conta com 3 frentes de atuação: o Projeto Maloca, Projeto Manguinhos e o Medicina Solidária. “Com os nossos projetos visamos promover impacto social através de campanhas de doações e atividades de assistência em saúde”, conta o médico jalesense Guilherme Pupim, que acaba de chegar da mais recente missão.
Voltado para assistência em saúde de povos indígenas, o Projeto Maloca, do qual Guilherme é idealizador, realiza ações de atendimento médico e odontológico desde 2020, na Terra Indígena Xakriabá – São João das Missões (norte de MG).

O médico jalesense Guilherme Pupim em ação nas terras indígenas Xakriabá

ATENDIMENTO

A ação que acabou de acontecer foi realizada pelo PAP na Terra Indígena Xakriabá entre os dias 8 e 12 de julho, contanto com a participação de médicos voluntários especialistas em Medicina de Família e Comunidade, Dermatologia, Fisiatria, Pediatria, Oftalmologia, Ginecologia e Obstetrícia, Psiquiatria, Urgência e Emergência. Também aconteceram atendimentos odontológicos com procedimentos de endodontia, próteses e exodontia, assim como inserções de Dispositivos Intrauterinos hormonais e de cobre(DIUs), doações de óculos e lentes de grau, orientações de aleitamento materno com uma médica especialista no tema e apoio nutricional. “Ao todo, a equipe foi composta por 25 profissionais médicos especialistas, 7 profissionais de odontologia e 60 alunos discentes da Faculdade de Ciências de Saúde de Barretos Dr. Paulo Prata”, contou Guilherme ao Jornal de Jales.

Guilherme Pupim em discussão de casos com colegas do Projeto Maloca, idealizado por ele em 2020 /
Fotos: Acervo PAP/ Projeto Maloca

RESULTADOS

Durante os cinco dias de ação, foram realizados 1.945 atendimentos médicos e odontológicos, inseridos 108 DIUs e 241 óculos doados, fora os mais de 400 atendimentos odontológicos para educação e orientação de higiene bucal.

“Apesar dos números expressivos para uma ação com poucos dias de atendimento, nossa principal meta, foi a qualidade e intensidade na humanização com o paciente. Entregando ao povo Xakriabá um atendimento com respeito e elevando a dignidade humana, sempre com o propósito de agregar ao sistema de saúde indígena a valorização da prevenção em saúde a um povo que sofre constantemente com o adoecimento de sua população através de agravos externos antes inexistentes”, relatou o médico.
A maior luta dos povos indígenas do nosso Brasil na atualidade, não é apenas a aquisição de medicamentos, mas promover o não adoecimento de sua população.

“A realizações de ações como essa, idealizadas, criadas e desenvolvidas por médicos e alunos de medicina, demonstra a ineficiência do atual sistema de saúde na maioria das terras indígenas e de locais afastados dos grandes centos no Brasil, comprovando ao setor público, a possibilidade de se levar atendimentos com qualidade e procedimentos padrão-ouro para dentro de territórios conhecidos como de difícil acesso”, afirmou.

UNIVIDA

A triagem dos pacientes feita por universitários voluntários na reserva indígena com mais de 20 mil pessoas

Fundada há 13 anos pelo padre Eduardo Lima da Diocese de Jales, a Associação Humanitária Universitários em Defesa da Vida – UNIVIDA, realiza atendimentos de saúde em diversas áreas através de universitários voluntários, transformando a vida de populações em vulnerabilidade social na Reserva Indígena de Dourados no Mato Grosso do Sul (em julho) e também na Amazônia (em janeiro).

A 13ª. expedição reuniu 400 voluntários de 12 a 19 de julho em Dourados, reserva que é a maior do estado e a terceira maior do país, com cerca de 20 mil indígenas das aldeias Jaguapiru, Bororó, Amambai e Caarapó.

“As missões são também uma oportunidade de jovens profissionais serem humanizados, buscando a prática do amor em suas profissões”, afirmou padre Eduardo.

Em depoimento sobre a viagem, padre Eduardo Lima declarou: “desses 13 anos de missões, essa me marcou de forma muito profunda pela quantidade de voluntários e pela tristeza de ver que os indígenas estão sofrendo ainda pela fome, pelo descaso, pelas doenças, pelo frio, pela falta de água e saneamento básico. Nos deparamos com crianças sem proteção para o frio, milhares de crianças na fila desde manhã querendo algo para comer. A crise humanitária dos nossos irmãos é extremamente séria e precisa ser vista”, relatou o padre.

Foram em torno de 7. 500 atendimentos nos sete dias em que o grupo esteve na Reserva, somando consultas médicas, psicológicas, de fisioterapia e tratamentos odontológicos, que incluiu até a entrega de próteses dentárias, assistência social e jurídica. Também foram distribuídas 60 toneladas de doações de alimentos, roupas, brinquedos e medicamentos, e servidas mais de 1200 refeições diárias.

“Um médico me relatou que, atendendo uma indígena gestante muito pobre, ele receitou a ela uma vitamina, e ela perguntou a ele se a vitamina daria fome. Ela disse a ele que estava com medo de sentir mais fome”, lamentou o missionário.

Ainda segundo as constatações do padre que se dedica ao projeto desde o seu início, a insegurança alimentar é um grave problema em nosso país: “posso testemunhar o sofrimento dos indígenas cada vez que vamos até eles. A Missão está no caminho da humanização e do cuidado, e vem trazendo um pouco mais de dignidade a esse povo tão sofrido”, concluiu.

Coroando a missão, a Câmara Municipal de Dourados foi até o alojamento da UNIVIDA, para a Sessão Solene de Entrega de Título de Cidadão Emérito de Dourados para o Padre Eduardo Lima, um reconhecimento a toda sua dedicação nestes anos de projeto.

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