Aos 63 anos, com mais de 40 dedicados ao esporte, Bernardinho é um dos nomes mais conhecidos no mundo quando se fala de vôlei. O ex-técnico da seleção brasileira e treinador do Sesc Flamengo deu sua visão do esporte que é feito no País, comentou sobre o clube e analisou sua carreira em entrevista ao Estadão.
Referência no mundo esportivo por causa de suas conquistas, dentre elas duas medalhas de ouro com o Brasil em Jogos Olímpicos, Bernardinho foi direto e deu sua visão analítica da situação vivida no País. “A cultura do esporte no Brasil obviamente tem crescido, as modalidades têm crescido, mas quando você olha na essência, não temos aqui uma cultura do esporte. Não entendemos como um investimento. As nossas ligas ainda sofrem um pouco, apesar do tempo de existência. O vôlei brasileiro como seleção representa algo para o mundo que as nossas ligas não conseguem”, analisou Bernardinho sem meias palavras.
Bernardinho afirma que continua trabalhando no Flamengo sem receber salário. E já está na terceira temporada dessa forma. Diz que faz o que gosta e entende a situação do time. E não pensa em parar por causa disso. Ele ajuda o Sesc a ter novos patrocinadores.
O que na sua avaliação é o mais difícil para se promover o esporte no Brasil?
A cultura do esporte no Brasil obviamente tem crescido, as modalidades têm crescido, mas quando você olha na essência não temos aqui uma cultura do esporte. Não entendemos como um investimento. As nossas ligas ainda sofrem um pouco, apesar do tempo de existência. O vôlei brasileiro como seleção representa algo para o mundo que as nossas ligas não conseguem. Também temos a questão do País, talvez o País não tenha condições para isso. Eu vejo também a questão do binômio entre educação e esporte ainda pouco utilizado. Poderíamos ter muito mais prática nas escolas. Nas universidades, por exemplo, temos poucos projetos com o esporte. Espero que a Ana Moser, com a visão que ela tem, possa contribuir neste sentido como a nova Ministra dos Esportes. Acho que o Brasil precisa de muita coisa ainda. Não estou aqui lamentando, estou fazendo uma análise. Temos grandes seleções, com grandes resultados, mas internamente falta. Voleibol do Brasil está bem e o voleibol no Brasil pode melhorar. E quando eu falo voleibol, estou falando em esportes no geral. Temos grandes campeões no País de diversas modalidades, mas internamente não temos a estrutura desejada ou necessária.
O que te motiva a seguir buscando e tentando no esporte mesmo após tantas conquistas na carreira?
Primeiro que eu me vejo como um profissional em formação, que pode melhorar em muita coisa ainda e trabalho e treino para isso todos os dias, tentando me tornar melhor, me conectar com as pessoas e conseguir tirar das pessoas o melhor delas. O que me move é a paixão. Eu adoro isso. Se você me perguntar o que eu gosto mais, a resposta vai ser os treinos. Os jogos ok, são bacanas. Mas, para mim, o que as pessoas não conseguem ver é o que me move. A paixão por aquilo que eu faço é o que me move. Acredito que quando as pessoas encontram alguma atividade que elas possam viver daquilo e são apaixonadas por isso elas devem fazer isso até o fim da vida. Espero não morrer tão cedo, mas quero seguir fazendo isso.
- Fonte: O Estado de S.Paulo