O Jornal de Jales entrevistou com exclusividade Higor Vinicius Nogueira Jorge. O Delegado na Polícia Civil do Estado de São Paulo, é mestrando em educação pela UEMS, professor na Academia de Polícia e em pós-graduações, autor de mais de 30 livros sobre direito, tecnologia, crimes cibernéticos e investigação criminal tecnológica, além de possuir os sites www.higorjorge.com.br e www.crimesciberneticos.net.

Trabalhou em diversos departamentos da Polícia Civil na capital, inclusive no Departamento de Inteligência Policial, e apresentou aulas em capacitações na área de inteligência cibernética pelo Ministério da Justiça em vários estados. Atualmente é delegado de polícia na Central de Polícia Judiciária da Polícia Civil de Santa Fé do Sul. (JB)

J.J. – Quais são os golpes que mais estão acontecendo em Jales?
– Higor Jorge: Em Jales e em todo o Brasil, observamos um aumento significativo nas fraudes eletrônicas, especialmente aquelas que utilizam redes sociais e aplicativos de mensagens. Um golpe muito comum é o do falso vendedor. Aqui, o criminoso anuncia produtos em plataformas de comércio eletrônico a preços irresistíveis. As vítimas, atraídas pela oferta, realizam o pagamento, mas nunca recebem o produto. Em alguns casos, elas recebem um item diferente, como aconteceu recentemente, quando uma vítima comprou um notebook em um site falso e recebeu um tijolo.

Esses golpes se aproveitam da confiança dos consumidores nas plataformas online, usando imagens e descrições convincentes para enganar até mesmo os usuários mais atentos. Outro golpe frequente é o do falso empréstimo, em que a vítima paga uma taxa inicial para receber um empréstimo que nunca chega.

O phishing é outra técnica popular, onde e-mails ou mensagens fraudulentas se passam por comunicações de instituições confiáveis para coletar informações pessoais e financeiras. Esses golpes são sofisticados e frequentemente parecem autênticos, enganando até mesmo usuários cautelosos.

Com a digitalização crescente e a dependência da internet para transações financeiras e compras, esses tipos de fraudes aumentaram consideravelmente. É crucial que todos estejam cientes desses riscos e adotem medidas preventivas para se protegerem.

J.J. – O que é o golpe do “intermediário fraudulento”?
– Higor Jorge: O golpe do “intermediário fraudulento” envolve tanto o vendedor quanto o comprador. Nesse esquema, o criminoso se passa por um comprador interessado em um item anunciado, como um carro, e convence o vendedor a retirar o anúncio, alegando que está prestes a fechar o negócio. Com os
dados do anúncio original, o criminoso cria um novo anúncio, oferecendo o mesmo item por um preço mais baixo, atraindo rapidamente novos compradores.

Quando um comprador interessado entra em contato, o criminoso se apresenta como o vendedor legítimo e organiza um encontro entre o comprador e o verdadeiro vendedor. Durante o encontro, o comprador verifica o Delegado Higor Jorge alerta sobre golpes em Jales e região item e decide comprá-lo, acreditando estar em uma transação segura. O criminoso, fingindo ser o intermediário, instrui o comprador a transferir o pagamento diretamente para sua conta, sob o pretexto de facilitar a transação.

Após a transferência do dinheiro, o criminoso desaparece, deixando o verdadeiro vendedor sem o pagamento e o comprador sem o dinheiro. É importante notar que, frequentemente, os criminosos utilizam dados pessoais de pessoas que desconhecem o golpe, obtidos por vazamentos de dados ou engenharia social.

Para se proteger, vendedores devem ser cautelosos com compradores que pedem para retirar anúncios ou que sugerem métodos de pagamento incomuns. Compradores devem confirmar a identidade do vendedor e evitar transferências diretas para contas desconhecidas, preferindo métodos de pagamento seguros que ofereçam proteção contra fraudes.

J.J. – Também temos visto casos em que o criminoso invade a rede social da vítima, sendo que ela perde acesso à gestão da rede social, e o criminoso passa a oferecer produtos ou investimentos. Como isso funciona?
– Higor Jorge: Nestes casos, os criminosos invadem as redes sociais das vítimas e passam a usá-las para enganar outras pessoas, aproveitando-se da confiança que os amigos e seguidores da vítima têm nela.

Existem dois tipos principais de fraude que os criminosos costumam cometer após invadir uma conta de rede social:

Venda de Produtos:

Funcionamento:
O criminoso usa a conta invadida para oferecer produtos a preços atrativos, postando fotos e descrições de produtos populares, como eletrônicos, eletrodomésticos ou roupas, e convencendo os amigos e seguidores da vítima a realizar a compra.

Engano:
As vítimas acreditam estar comprando de uma pessoa confiável e realizam o pagamento diretamente para o golpista. No entanto, os produtos nunca são entregues.

Consequência:
Tanto a pessoa cuja conta foi invadida quanto os amigos e seguidores que foram enganados ficam prejudicados. A confiança nas transações online é abalada, e a vítima original pode enfrentar problemas com amigos que se sentem traídos.

Anúncios de Investimentos Fraudulentos:

Funcionamento:
O golpista posta anúncios sobre oportunidades de investimento que prometem retornos extraordinários em curto prazo, usando a reputação da vítima para atrair mais pessoas.

Engano:
Interessados entram em contato e são convencidos a investir grandes quantias de dinheiro, acreditando nas falsas promessas de lucro. Esses anúncios podem ser apresentados como investimentos em criptomoedas, ações ou outros ativos financeiros.

Consequência:
Os investidores perdem o dinheiro que enviaram ao golpista, e a pessoa cuja conta foi usada para o golpe pode ter sua reputação gravemente danificada.

Para se proteger contra esses tipos de fraude, é fundamental seguir algumas práticas de segurança:

  • Senhas Fortes e Únicas:
    Use senhas fortes e diferentes para cada uma de suas contas, evitando combinações óbvias e considerando o uso de um gerenciador de senhas.
  • Autenticação em Dois Fatores (2FA):
    Ative a autenticação em dois fatores em todas as suas contas de redes sociais para adicionar uma camada extra de segurança.
  • Monitoramento Regular:
    Verifique regularmente suas contas de redes sociais para identificar qualquer atividade suspeita. Se notar algo estranho, mude sua senha imediatamente e notifique a plataforma.
  • Educação e Alerta:
    Informe seus amigos e seguidores sobre esses tipos de golpes. Se sua conta for invadida, avise-os o mais rápido possível para que não caiam em fraudes.
  • Desconfiança Saudável:
    Sempre desconfie de ofertas de produtos a preços muito baixos ou de oportunidades de investimento que prometem lucros rápidos e altos. Pesquise sobre o vendedor ou o investimento antes de fazer qualquer transação.

J.J. – Detalhe o funcionamento de um golpe, desde o início, até o momento que a vítima é levada a se interessar pelo anúncio.
– Higor Jorge: Vamos exemplificar com o golpe do falso empréstimo. Esse golpe geralmente começa com um anúncio atraente nas redes sociais ou em sites de classificados, prometendo empréstimos com condições excepcionais.

Ao entrar em contato, a vítima é levada a fornecer dados pessoais e financeiros, sob a promessa de que o empréstimo será liberado rapidamente. Os golpistas então solicitam um pagamento inicial, alegando que é necessário para liberar o crédito ou cobrir taxas administrativas. Após o pagamento, a comunicação cessa, e a vítima nunca recebe o empréstimo prometido.

No caso de phishing, as vítimas recebem e-mails ou mensagens que parecem vir de instituições confiáveis, como bancos ou serviços de e-commerce. Essas mensagens contêm links para sites falsos que coletam informações pessoais e financeiras, que são usadas para cometer fraudes ou roubo de identidade.

J.J. – Como proceder quando perceber que caiu no golpe?
– Higor Jorge: Ao perceber que foi vítima de um golpe, a primeira ação é interromper imediatamente qualquer tipo de pagamento e cortar toda comunicação com os criminosos. Um dos pontos mais importantes e urgentes é comunicar a instituição financeira para tentar bloquear os valores pagos. Se o pagamento foi feito por Pix, existe um mecanismo especial de devolução, conhecido como MED (Mecanismo Especial de Devolução). Esse recurso foi criado pelo Banco Central para permitir a recuperação de valores transferidos em situações de fraude ou erro operacional. O funcionamento do MED é bastante eficiente, mas precisa ser acionado com a máxima urgência.

Aqui está como funciona o MED:

  1. Notificação Imediata:
    Assim que perceber a fraude, o usuário deve entrar em contato com seu banco ou instituição financeira imediatamente para relatar o incidente.
  2. Solicitação de Devolução:
    A instituição financeira iniciará o processo de devolução, solicitando ao banco recebedor que retenha os valores.
  3. Análise do Caso:
    O banco recebedor realiza uma análise preliminar para verificar a legitimidade da solicitação e, se confirmada a fraude, os valores são retidos.
  4. Prazo para Resolução:
    Em geral, o processo completo pode levar até 10 dias úteis, durante os quais a instituição financeira do usuário e o banco recebedor trabalharão juntos para recuperar os valores.
  5. Devolução dos Valores:
    Se a fraude for confirmada, o valor será devolvido para a conta do usuário.

Além disso, a vítima deve reunir todas as evidências possíveis, como mensagens, e-mails, comprovantes de pagamento, e procurar a Central de Polícia Judiciária para registrar um Boletim de Ocorrência. É fundamental fornecer o máximo de detalhes para que as autoridades possam investigar o caso de forma eficaz.

Importante ressaltar que a agilidade em relatar o golpe para a instituição financeira pode aumentar significativamente as chances de recuperação do dinheiro e impedir maiores prejuízos. Também é importante mudar as senhas de e-mails, redes sociais e outros serviços online, e ativar a autenticação em dois fatores, que adiciona uma camada extra de segurança às contas.

J.J. – Qual a melhor maneira para se proteger ou proteger familiares de golpes?
– Higor Jorge: A melhor proteção contra golpes é a prevenção. Desconfie sempre de ofertas que parecem boas demais para ser verdade. Verifique a autenticidade de ofertas e propostas antes de fornecer informações pessoais ou financeiras. Educar familiares, especialmente os mais jovens e os idosos, sobre os tipos de golpes comuns é fundamental. Ensine-os a não clicar em links suspeitos, não baixar anexos de e-mails desconhecidos e a nunca fornecer informações sensíveis sem verificar a legitimidade da solicitação. Utilize programas antivírus e antimalware atualizados, mantenha o sistema operacional e os aplicativos sempre atualizados, e configure a autenticação em dois fatores para todas as contas online.

J.J. – Qual a orientação do Dr. Higor Jorge para blindar celulares e computadores?
– Higor Jorge: Blindar celulares e computadores contra golpes envolve utilizar várias camadas de segurança. O usuário deve instalar e manter atualizados programas antivírus, preferencialmente a versão paga desse tipo de recurso. Mantenha sempre o sistema operacional e todos os aplicativos atualizados para corrigir vulnerabilidades. Utilize senhas fortes e únicas para cada serviço e habilite a autenticação em dois fatores sempre que disponível. Eviteclicar em links ou baixar anexos de e-mails desconhecidose suspeitos. Realize backups regulares de dados importantes em dispositivos externos ou em serviços de nuvem confiáveis. Além disso, educar-se e educar os membros da família sobre práticas seguras na internet pode prevenir muitos ataques.

J.J. – De janeiro de 2024 até o início de julho de 2024, quantos golpes foram registrados?
– Higor Jorge: Não é possível determinar o número exato de vítimas deste tipo de crime, bem como existe a questão da subnotificação e do medo das vítimas em denunciar. No entanto, estimativas indicam que milhares de pessoas em todo o Brasil foram lesadas.Organizações como o Panda Security e o CERT.br destacam que a sub notificação é um problema significativo em fraudes online, dificultando a obtenção de dados precisos. Esse dado serve comoum alerta para a população redobrar os cuidados e adotar práticas seguras ao utilizar a internet e realizar transações financeiras.

J.J. – Apresente suas considerações finais sobre as fraudes eletrônicas.
– Higor Jorge: A disseminação das fraudes eletrônicas é um exemplo de como crimes tradicionais se adaptam às novas tecnologias. A população precisa ser informada sobreos riscos e a ilegalidade dessas práticas. A Polícia Civil tem trabalhado intensamente para identificar e responsabilizar criminalmente os responsáveis e os resultados têm sido excelentes, demonstrando o preparo e a competência dos devotados policiais. Este trabalho também tem comprovado que o crime não compensa, porém, a colaboração da sociedade é essencial. A educação digital e a conscientização sobre a importância do uso ético e segurodos meios tecnológicos são as melhores estratégias para enfrentar esses delitos.

Delegado Higor Jorge / Foto: Arquivo Pessoal

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