“Reflexões – A vida faz pensar” é o título do novo livro de Dom Demétrio Valentini, bispo emérito de Jales. Já à venda na Livraria Pastoral da Catedral de Jales e da Matriz Santa Rita de Fernandópolis, o livro traz 366 reflexões, uma para cada dia do ano. Tendo em vista a bagagem cultural e religiosa do autor, que dirigiu a Diocese de Jales durante 33 anos, período em que exerceu cargos em nível nacional como a Coordenação das Pastorais Sociais da CNBB e a presidência da Caritas Brasileira, o livro é um poderoso instrumento para pensar melhor as coisas da vida de cada um. Eis a íntegra da entrevista que ele concedeu ao Jornal de Jales.
J.J. – De que trata o livro “Reflexões -A vida faz pensar”?
Dom Demétrio – Estas breves reflexões são um convite para vivermos os acontecimentos de maneira consciente, sem nos deter nas aparências, e buscando compreender as causas dos fatos. É importante termos mais discernimento, para entender o que está por trás das manchetes. Vale a advertência: as aparências enganam.
J.J. – O que o levou a escrever este novo livro?
Dom Demétrio – Sempre faz bem deter-nos a meditar sobre a realidade, ajudados por algum texto que nos provoca a compreender os fatos. Pois a “a vida faz pensar”.
Mas as “reflexões” que coloquei em forma de livro, tendo o ano como referência, carregam junto uma circunstância que partilho com os leitores.
Quando passei a ser “bispo emérito”, sem a responsabilidade do pastoreio de uma diocese, ouvi de colegas meus, a observação de que, ao se tornar emérito, o Bispo continua membro da CNBB, a “Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”, mas com esta restrição: nas Assembleias, o Bispo Emérito já não tem mais direito a voto, mas continua com direito a voz! Pode dar opinião, mas quem decide são os outros! Parece um consolo, que para mim durou pouco. Pois logo em seguida chegou o “Parkinson”, que arruinou minha voz. Assim, fiquei sem voto, e sem voz”.
Mas aí me dei conta que sobrava ainda o direito a escrever. Que pode ser mais eficaz. Com a advertência de que também pode cessar, quando, por exemplo, os dedos já não obedecem mais ao comando do teclado.
J.J. – Em que medida este livro “Reflexões” pode contribuir para o aprimoramento da vida espiritual dos leitores?
Dom Demétrio – São textos provocativos, que acenam para outras reflexões, que iluminam as circunstâncias em que vivemos, e nos ajudam a perceber como fazemos parte de um mistério maior de nossa vida.
J.J. – Por que o senhor resolveu dedicar o resultado da venda do livro à Caritas brasileira?
Dom Demétrio – Para prestigiar esta Entidade Social, incumbida de apoiar projetos sociais, espalhados em todo o país. É um gesto simbólico, para mostrar a urgência de apoiar estes projetos.
J.J. – O senhor já foi membro do Conselho de Desenvolvimento Social da Presidência da República, durante o governo Lula, durante quatro anos. O Brasil tem jeito?
Dom Demétrio – O Brasil vive um momento decisivo de sua história. A situação precisaria ser enfrentada com discernimento e grandeza de ânimo. Ao contrário disto, as tensões foram se radicalizando, a ponto de colocar em risco nossa identidade nacional, ameaçada pelo clima de ódio e de violência, propagado abertamente.
A maneira como está sendo conduzida a campanha eleitoral, aumenta as apreensões sobre os desdobramentos da situação política após as eleições. Em vez de fortalecer o clima de debates positivos para o enfrentamento dos principais problemas do país, a campanha eleitoral se tornou uma escola de como forjar acusações contra os adversários políticos, e de como utilizar os recursos públicos para fins eleitorais, numa inescrupulosa prática de corrupção política.
Fica o desafio de como sair deste impasse, de como superar a herança perversa de desencanto produzido pela situação que foi criada.
Fica a grande interrogação para o momento que estamos vivendo. Quem deveríamos indicar, para conduzir o processo de restauração política de que o Brasil está precisando tanto.
No contexto de urgente retomada de valores fundamentais que inspirem um projeto de nação digno da grandeza de nosso país, vale a pena ter presente as generosas propostas, formuladas reiteradamente pelas “Semanas Sociais Brasileiras”, promovidas pela CNBB, na busca de um projeto de “BRASIL QUE NÓS QUEREMOS” assim formulado: Um país
- Politicamente democrático
- Economicamente justo
- Socialmente solidário
- Culturalmente plural
- Regionalmente diversificado
- Religiosamente ecumênico
- Ecologicamente sustentável.
Em todo o caso, é urgente retomar com generosidade o projeto de um País que seja digno da grandeza de um Brasil que nos acolhe a todos e nos permite sentir-nos filhos da mesma Pátria, mãe generosa que não cessa de estimular entre nós os laços de paz e de fraternidade, que nos permitem viver com segurança e dignidade.