Julia Nanci
O termo “Brain rot” foi anunciado pela Universidade de Oxford como a expressão do ano de 2024. Esse termo diz respeito ao esgotamento mental em função do consumo excessivo de conteúdo superficial e pouco desafiador. A tradução “ao pé da letra” seria “podridão cerebral” e levanta questionamentos sobre o impacto do consumo excessivo de conteúdo online de baixa qualidade, especialmente nas mídias sociais.
Após uma votação pública na qual mais de 37.000 pessoas deram sua opinião, os especialistas notaram que as buscas pela definição do termo aumentaram em frequência de uso em 230% entre 2023 e 2024.
O Jornal de Jales entrevistou as médicas psiquiatra Ludymilla Araki e a neurologista Mariana Rossini, para entender de onde vem o aumento na aparição das palavras, e o que a “podridão cerebral” representa para os usuários da internet.
ESPECIALISTAS
De acordo com a psiquiatra: “Está cada vez mais raro vermos pessoas lendo livros e consumindo conteúdos de valor cultural e educacional, ao passo que existe um aumento exponencial no consumo de fofocas, jogos online, e os chamados “memes”. Isso tem gerado prejuízos cerebrais que afetam a cognição de forma muito relevante, levando à dificuldade de concentração e atenção, e prejudicando o pensamento crítico e a criatividade, ou seja, a capacidade de analisar e questionar, gerando impactos significativos na saúde mental”, explica.
Para Ludymilla Araki, crianças e adolescentes nascidos entre 1997 e 2025, chamados de geração Z e Alpha, e conhecidos como nativos digitais, visto que cresceram com o acesso fácil à internet desde cedo, estão claramente mais suscetíveis a sofrerem os impactos do “cérebro podre” e mais expostos às consequências na saúde mental, como transtornos do neurodesenvolvimento.
A neurologista Mariana Rossini, contou que tem vivenciado um aumento das queixas relacionadas a cognição, que podem sim ser consequência do aumento do uso de telas, redes sociais e informações falsas ou de baixa qualidade, mas também são resultados da alta demanda e da pressão rotineira que enfrentamos no dia a dia. Mariana sugere que diante de uma queixa cognitiva, sempre cabe uma investigação individualizada, que deve levar em conta a rotina diária de cada um, e o ideal é passar por avaliação especializada.
As especialistas em distúrbios do cérebro e do sistema nervoso destacam que é importante que os pais restrinjam o tempo das crianças e adolescentes em telas, e também estejam sempre atentos ao conteúdo digital que os filhos estão tendo acesso, além de rever o próprio tempo gasto na internet, principalmente nas redes sociais, e tentar filtrar as informações provenientes de fontes de qualidade, para que o “brain rot” ou o “cérebro podre” não afete ainda mais as próximas gerações e a sociedade atual.