Este mês marca oficialmente a Prevenção ao Suicídio apesar da necessidade de abordagem do assunto durante todo o ano. Atualmente, o “Setembro Amarelo” é a maior campanha anti estigma do mundo! Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda!” e diversas ações estão sendo desenvolvidas em todo o país.

A médica psiquiatra Ludymilla Araki é a entrevistada da semana e ressaltou a importância de falar sobre saúde mental. “Ainda falta muito esclarecimento sobre o assunto e infelizmente ainda é bastante estigmatizado”.

A especialista ainda falou sobre a importância que a mídia tem ao discorrer sobre o assunto: “Sempre com responsabilidade, empatia e com o devido cuidado com a linguagem”, afirmou.

Ludymilla é formada em Medicina pela Unicastelo, com especialização em Psiquiatria pelo Instituto Superior de Medicina em conjunto com a Santa Casa de São Paulo. Tem Aperfeiçoamento em Psicogeriatria (Proter – USP) e está realizando Aprimoramento em Transtornos Alimentares (Ambulim – USP). (JB/GR)

J.J – Qual a importância de falar sobre a saúde mental?
Ludymilla Araki – É de extrema importância, porque ainda falta muito esclarecimento sobre o assunto e infelizmente ainda é bastante estigmatizado, carregando muito preconceito por grande parte da população. Todos devem entender que se falta saúde mental, todos os âmbitos da vida do indivíduo poderão ter prejuízos, inclusive a saúde física com problemas com peso, sono, apetite sexual, entre outros.

J.J. – Em faculdades de Jornalismo, os estudantes são orientados a não noticiar acontecimentos envolvendo suicídios. Na sua opinião como a mídia pode atrapalhar ou ajudar quando o assunto é suicídio?
Ludymilla Araki –
Eu considero isso um grande erro. A mídia tem um grande poder na sociedade e deve usar todo esse poder à serviço da população, trazendo a realidade dos fatos. O suicídio, infelizmente, é real e frequente. Diante disso, considero importante falar sobre o assunto, mas sempre com responsabilidade, empatia e com o devido cuidado com a linguagem para que não seja ainda mais estigmatizante.

J.J. – Focando na cobertura da mídia, quais são os erros mais frequentes? E por que eles são danosos?
Ludymilla Araki –
Acredito que os erros mais frequentes acontecem quando a mídia enfatiza os métodos empregados pela pessoa para se matar e quando existe uma “glamourização” do autoextermínio ao ser retratado. Essa é uma forma muito irresponsável de passar informação.

É importante também ressaltar que o suicídio é influenciado por diversos motivos que poderiam ser evitados. Apontar uma única causa para a retirada de uma vida pode prejudicar a compreensão e normalizar o suicídio como a solução dos problemas. Já foi comprovado em estudos que a cobertura inadequada da mídia pode aumentar os riscos de suicídio.

J.J. – A campanha Setembro Amarelo busca diminuir os índices das vítimas de suicídios. Qual a importância dessa campanha?
Ludymilla Araki –
“Setembro Amarelo” é uma campanha que tem como principal objetivo a conscientização sobre a prevenção do suicídio, buscando alertar a população sobre suas causas e motivações. Diversas ações no mundo são realizadas com o intuito de alertar e ajudar pessoas, quebrando preconceitos e mostrando para a sociedade o quanto é importante ouvir, ser gentil e não desistir de ajudar. A sua ajuda pode salvar a vida de alguém. Nosso grande objetivo é esse, porque viver é sempre a melhor opção.

J.J. Como é possível trabalhar o luto de familiares que perderam um ente querido por suicídio?
Ludymilla Araki –
O luto por suicídio é diferente de outras formas de luto. As reações ao suicídio são intensas e avassaladoras. A resposta ao luto é muito individual, mas é importante que as pessoas que estiverem passando por isso, aceitem ajuda de profissionais que vão utilizar ferramentas para auxiliá-los da melhor forma. Ter uma rede de apoio com amigos e familiares nesse momento é de muita valia e estes devem estar dispostos a ajudar com uma escuta sem julgamentos e críticas, respeitando o tempo da pessoa e se mostrando presentes com seu apoio.

J.J. Quais são as quatros medidas mais efetivas para combater o suicídio conforme orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS)?
Ludymilla Araki –
O primeiro deles seria limitar o acesso a meios letais – veneno, cordas, armas de fogo; ou seja, qualquer coisa que possa ser usada para realizar o ato. O segundo é uma abordagem adequada da mídia; o terceiro é desenvolver nossa resiliência, ou seja, desenvolver nossa capacidade de lidar com frustrações e a quarta medida é identificar, tratar e acompanhar os indivíduos com comportamento suicida. Estes indivíduos precisam ser acompanhados por profissionais capacitados.

Para finalizar, gostaria de lembrar que o seu apoio pode salvar a vida de alguém. Se alguém encara a morte como a única resposta em momentos de adversidade, é de extrema importância iniciar um diálogo, oferecer apoio, valorizar os vínculos e reforçar os laços com a vida. Jamais subestime ou ignore os sinais.

Ludymilla Araki, médica psiquiatra: “O luto por
suicídio é diferente de outras formas de luto”

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