Giana Rodrigues

Os ilustradores são um dos grupos de profissionais da indústria criativa que estão mais preocupados com a possibilidade da extinção de sua profissão por causa do avanço da inteligência artificial (IA) generativa, aquela que cria novos conteúdos, como texto, imagens, música, áudio e vídeos, a partir de um banco de dados.

Matéria realizada pela BBC News repercutiu que a situação tem levado à criação de grupos de artistas que discutem o novo cenário e propõem buscar saídas por meio de propostas de lei.

A cantora e compositora Marisa Monte é uma das que tem usado sua voz para dar visibilidade à causa dos artistas, e participou de uma sessão na comissão do Senado que discute o projeto de lei que regulamenta inteligência artificial no Brasil, o PL 2338.

A artista pediu uma “legislação que acompanhe essas mudanças para proteger os direitos dos criadores e garantir um ambiente justo e equilibrado para todos”.

O cartunista Cazo: “ilustrações de IA acabam se tornando plágio por se basearem em banco de dados de artistas”

SENADO

A votação do PL sobre IA na comissão do Senado (que trata não apenas da questão de artistas, mas de todos os produtos envolvendo a tecnologia) já foi adiada três vezes, em meio a divergências entre setores e categorias que buscam proteger as suas atividades.

Uma pesquisa recente sobre IA da Society of Authors, um sindicato do Reino Unido para escritores, ilustradores e tradutores literários profissionais, mostrou que 26% dos ilustradores e 36% dos tradutores afirmaram que já perderam empregos para máquinas.

Já uma análise do Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2024 estimou que a inteligência artificial está prestes a afetar quase 40% de todos os empregos.

Zé Otávio participou de alguns catálogos de ilustração de uma das maiores editoras de arte do mundo: “precisamos proteger nossos direitos autorais”

ARTISTAS

O Jornal de Jales conversou com o cartunista Luiz Fernando Cazo, responsável pelos cartoons do J.J. desde 2010 e seu principal apontamento foi em relação ao uso de banco de dados dos trabalhos de outros artistas: “a IA copia esses estilos de artistas que estudaram anos para chegar àquele resultado, e monta as ilustrações, só que muitas dessas acabam se tornando cópia daquelas em que se baseou. É como se fosse um plágio”, contou.

Por outro lado, ele continua acreditando que a IA não substitui ainda a criatividade: “se você pega meu trabalho por exemplo com cartoons, é autoral e depende da minha leitura de vários assuntos e de extrair a essência deles, de definir uma ideia para o cartoon e isso a IA ainda não faz. Ter a ideia criativa e a filtragem de assuntos, não sei em que momento e se isso vai ocorrer”, afirmou Cazo.

Zé Otávio Zangirolami é ilustrador e viveu sua infância em Jales. Hoje radicado em Olímpia, atua há 14 anos no ramo e concedeu entrevista ao J.J.: “nenhum artista ou ilustrador quer uma máquina copiando seu trabalho e tomando seu lugar no mercado. Minha opinião é de que precisamos nos unir e entender como podemos proteger nossos direitos de imagem para a IA e que façamos dela apenas uma ferramenta a nosso favor, e não o contrário”, declarou.

(Com informações da BBC News)

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