O texto “Meu filho é autista. E agora?”, de autoria da cirurgiã-dentista jalesense Cássia Higashi Jardim Tanios, coordenadora de grupo de mães que se reúnem com periodicidade, publicado no caderno especial de aniversário da cidade, domingo passado, dia 9 de abril, repercutiu intensamente. Para ampliar o debate da questão, o J.J. entrevistou Ana Keila Costa Barreira Bordon, titular da disciplina de Odontopediatria na Unifunec, graduada pela Universidade de Uberaba, com especialização pela Unesp e mestrado pela São Leopoldo Mandic, de Campinas. Ela atende em seu consultório, em Santa Fé, e também em Jales, na avenida João Amadeu, n°2405 (Dentomax). Eis a íntegra da entrevista que concedeu.

J.J. – Desde quando, a senhora atende crianças autistas?
Dra. Ana Keila –
Como Odontopediatra sempre tive uma grande procura para atender pacientes com necessidades especiais (PNE) e nos dias atuais os profissionais da área, cirurgiões dentistas, estão inseridos neste grupo com grande aparição. Tendo em vista que o número de crianças com TEA, ou seja, com Transtorno de Espectro Autista vem aumentando nos últimos anos, e isso se deve à qualificação e habilidades dos neuropediatras e psicopediatras em diagnosticá-las, houve um amento na demanda nos consultórios odontopediátricos. Diante dessa necessidade venho há oitos anos aproximadamente capacitando-me e especializando para o atendimento dessa condição de comportamento (Autismo).

J.J. – Como eles reagem no momento do tratamento propriamente dito?
Dra. Ana Keila –
“Nenhum Autista é igual ao outro”, cada um apresenta suas particularidades, logo o tratamento é planejado de maneira individualizada, respeitando as características e demandas de cada paciente. Sabemos que a antecipação (PREVISIBILIDADE) evita o aumento da ansiedade e comportamento disruptivo. A previsibilidade do ambiente oferece também mais segurança à criança do TEA. Pensando nisso utilizamos da “História Social” visando uma preparação para a primeira consulta ao dentista da criança com Autismo. Funciona da seguinte forma: na primeira consulta somente os pais ou responsáveis irão para uma anamnese detalhada, ocasião em que receberão um material didático (elaborado por mim) contendo orientações sobre como trabalhar com a criança em casa (7 a 10 dias), com o objetivo de ajudar no processo de aceitação e cooperação do tratamento odontológico. Deparo muito com a ansiedade dos familiares quanto ao tratamento, motivo pelo qual digo para não criarem muita expectativa, pois cada criança tem seu tempo.

J.J. – O que a senhora recomenda para os pais de filhos autistas em termos de tratamento dentário?
Dra. Ana Keila –
Como toda criança, o ideal é que a primeira visita seja antes do nascimento dos primeiros dentinhos. A higiene bucal precisa fazer parte da rotina diária do Autista, caso contrário ele poderá ter cáries e dor. A dor desorganiza a pessoa com TEA e pode torna-la agressiva ou autoagressiva, e o descontrole pode levar ao aumento do uso de medições. No meu consultório também fornecemos um material estruturado para auxiliar no processo de higiene bucal para crianças com TEA, e todas as orientações ali especificadas são passadas com todo amor e carinho.

Ana Keila: “deparo muito com a ansiedade dos familiares quanto ao tratamento”

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