• Luiz Ramires

As pessoas mais idosas já devem ter percebido que o consumo de bebidas alcoólicas tem diminuído bastante entre as mais novas. Basta observar o comportamento das mesmas nos locais onde tradicionalmente a bebida faz parte do comportamento interativo e quem não bebia normalmente era considerado diferente e mesmo discriminado entre os colegas.
Se antes o consumo de álcool era quase uma obrigação em festas e bares, hoje não é bem assim. Os mais jovens, da chamada geração Z, que nasceram entre 1990 e 2010, estão consumindo bem menos essas bebidas do que as mais velhas, quando isso era fator de autoafirmação que vinha desde décadas passadas, chegando ao exagero no final da década de 1990, na virada do milênio, como afirma John Holmes, professor de políticas sobre álcool da Universidade de Sheffield, no Reino Unido.
A geração Z já nasceu no mundo digitalizado, convivendo normalmente com a internet e o celular, conectadas de forma permanente, entendendo perfeitamente essa tecnologia e preparadas para as novidades que sempre vão surgindo.
Pesquisas internacionais mostram que a redução no consumo de álcool vem acontecendo em todo lugar, como em um estudo realizado no Reino Unido apontando que em 2019, 26% das pessoas com idade entre 16 e 25 anos não bebiam, enquanto esse índice não passava de 15% entre os que tinham de 55 a 74 anos. Não é muito diferente nos Estados Unidos, onde os adultos mais velhos bebem mais, como aponta uma pesquisa do Instituto Gallup, sendo que em 2020 outra pesquisa mostrou que os jovens universitários que deixaram de beber aumentou de 20% para 28%, em uma década. Também não é diferente em outros países da Europa, como na Nova Zelândia, onde esse consumo caiu mais de 50% entre 2001 e 2012.
Tudo indica que os jovens da geração Z estão mais preocupados com a saúde e o bem estar e se incomodam em ter que enfrentar o dia seguinte, depois de uma bebedeira. Eles também estão mais conectados, ocupando maior parte do tempo com a internet, o que contribui para com a redução do espaço para as bebidas, mesmo frequentando os lugares onde beber faz parte do processo de interação social. Só que nesse caso, eles preferem as bebidas sem álcool, levando as indústrias a reverem seu processo de produção para atender melhor esse novo consumidor. O Brasil é um dos vários países onde esse consumo deverá crescer 31% até 2024, segundo a empresa líder na análise do mercado de bebidas IWSR.
Uma prova de que essa tendência não é apenas um comportamento passageiro é que essa geração não está preocupada apenas em deixar de beber, mas em se cuidar, largando as drogas, o fumo, a direção perigosa e outros comportamentos de risco, como afirma Amy Pennay, pesquisadora sênior do Centro de Pesquisa de Políticas sobre o Álcool da Universidade La Trobe, em Melbourne, na Austrália. O álcool, nesse caso, é associado a perigos, ansiedade e depressão, como mostra uma pesquisa do Google em que essa associação é feita por 41% dos entrevistados.
Assim, podemos perceber que a bebida não é mais uma exigência para se integrar ao meio social entre os jovens da mesma idade que preferem se recolher ou se preocupar com a qualidade devida, os estudos e a preparação para o futuro, como afirma a pesquisadora. Outra pesquisa, envolvendo 15 mil participantes, feita pela empresa Deloitte mostrou que 29% dos jovens da geração Z estão preocupados com o custo de vida e as despesas com o alcoolismo também podem ser um dos fatores para a redução do seu consumo, segundo Pennay.

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