O caos vivido pelos moradores da Região Metropolitana de São Paulo no último final de semana colocou luz (com o perdão do trocadilho) sobre a discussão da privatização de serviços essenciais e também para a necessidade de autoridades públicas e concessionárias acordarem diante dos efeitos da mudança do clima sobre a população que deveriam bem atender.
Foram precisos pouco mais de 15 minutos de temporal para deixar sete mortes no estado e cerca de 4,2 milhões de imóveis sem energia elétrica, boa parte por mais de 50 horas.
Entrevistas com representantes da Enel, principal fornecedora de energia na região, apontavam para o ineditismo da situação, com ventos chegando a 100 km/h. Surpresa que deveria ser da população atingida, mas não do poder público e das prestadoras de serviços.
Basta ver a entrevista do presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, Eduardo Annunciato, dizendo ao portal UOL que a entidade previu apagão que poderia durar uma semana e avisou a Enel.
Ao que parece, o atual modelo de gestão não prioriza a prevenção de danos. Não é aceitável que, com tantos recursos tecnológicos, tenhamos de conviver com os apagões constantes, que causam transtornos e prejuízos às pessoas e empresas.
Na região de Jales não é preciso voltar muito atrás para lembrar de situações em que fortes chuvas trouxeram transtorno. No dia 8 de outubro, um forte temporal deixou às escuras os bairros Jardim Estados Unidos, Nova Jales, JACB, Pedro Nogueira, Vila Mariana e Maria Gabriela. Esse foi só um dia diante de tantos que devem ter algo parecido com a chegada do verão.
Eventos climáticos extremos tendem a se repetir com mais frequência, diante do desequilíbrio ambiental, que já foi tema de entrevista aqui em nossas páginas, com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Marco Antônio Fonseca Conceição.
Diante desse cenário, são necessários investimentos, recursos técnicos e política de regulação. E até mesmo repensar a natureza pública ou privada de empresas que prestam serviços essenciais, como luz e água.
Para se ter uma ideia, em 2019 o número de empregados diretos da Enel era de 7,7 mil, e atualmente está em 3,9 mil. A antiga proprietária da Eletropaulo, a AES, havia aumentado o quadro de funcionários diretos após um apagão em bairros em São Paulo, causado por uma tempestade em 2014. Assim fica fácil explicar porque tanta gente ficou sem energia e também a demora na regularização dos serviços, mesmo diante de uma situação extrema.
O modelo atual do setor de distribuição de energia elétrica aumenta a possibilidade de apagões. Isso porque as empresas não investem em manutenção preventiva, com a troca de transformadores e poda de. Religadores automáticos são instalados para isolar defeitos em um dado setor, impedindo que afete o resto da rede, plano que só funciona em dias normais. Resumindo, a empresa deixa de gastar em manutenção preventiva em toda a malha para fazer ação corretiva nos pontos atingidos.
Vai voltar a acontecer e não se trata apenas de casas iluminadas por velas e de lojas, geladeiras desligadas e prestadores de serviços com as portas arriadas durante dias. A falta de energia traz riscos adicionais ao trânsito, inviabilizou o uso de aparelhos médicos em residências, impediu o teletrabalho e afetou a comunicação.
O que sobra para nós, consumidores, é torcer para que as empresas de serviços essenciais e o Estado, para o bem comum, consigam chegar a um bom termo e não tenhamos de ficar com a marca do arrependimento da privatização.

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