O colunista da revista Veja, Thomas Traumann, analisou, recentemente, um recorte exclusivo de uma das pesquisas feitas pela GENIAL/Quaest sobre a eleição presidencial que acontece hoje, 30 de outubro de 2022.
De acordo com o especialista, independentemente de qual candidato vencer essa eleição, Jair Bolsonaro ou Luís Inácio Lula da Silva, o Brasil sairá partido das urnas essa noite.
O comportamento dos brasileiros, antes e depois da votação, deverá confirmar o que vem sendo observado ao longo dos últimos 90 dias de campanha: uma parcela da população – que votará em Jair Bolsonaro – acha “inaceitável” o voto em Lula. E o mesmo acontece com a outra parcela, que votará em Lula. Estes refutam a tentativa de reeleição do presidente pelos bolsonaristas.
Essa intolerância, antes batizada de polarização política ou partidária, agora ganha novos matizes e nome. Trata-se da polarização afetiva. Segundo os estudiosos do assunto, ela acontece quando a identificação de cada um com o seu grupo ideológico cresce ao mesmo tempo que a rejeição a quem pensa diferente também aumenta.
Assim, o que antes era apenas uma divergência, passa a ser motivo de rompimentos. O grupo adversário passa a ser tratado como inimigo e, portanto, as pessoas não desejam mais aquele outro ser no seu cotidiano. Daí as fissuras recentes na família, no trabalho, entre os amigos.
E se engana quem pensa que depois das eleições isso vai melhorar. De acordo com a pesquisa analisada, aproximadamente 38% dos eleitores de Lula e 33% das pessoas que votarão em Bolsonaro acreditam que as relações rompidas não serão reestabelecidas. Resultado final: Perdemos todos!
Perdeu o Brasil, que está na corda bamba oscilando ora para a democracia, ora para a ditadura. Perdeu a política, porque o jogo ficou tão sujo que todos os candidatos foram para a vala comum do “político nenhum presta”.
Perdeu a Educação, porque professores de História, Sociologia e Filosofia não foram capazes de ensinar, contundentemente, que os erros do passado não devem ser repetidos. Perderam as escolas, que deixaram de ser palco do conhecimento e se aquietaram diante do absurdo negacionismo da Terra plana e das vacinas que matam.
Perderam os pais, que terão seus filhos doutrinados se não pela esquerda, pela direita. Impedidos de pensar, essas crianças e jovens não saberão distinguir entre verdade e conhecimento versus mentira e fake news (mas quantos adultos hoje sabem?).
Perderam as famílias que tiveram os almoços de domingo e de outros dias da semana estragados pela conversa indigesta de alguém que se sentia melhor do que os outros e achou que poderia ficar “vomitando” as suas verdades.
Perderam os avós, tios, sobrinhos e netos que tiveram que abandonar o grupo de conversas da família porque já não aguentavam mais tanto egoísmo, mentira e falta de espaço de compartilhamento de ideias, fatos, fotos, viagens. Só tinha a encheção de saco das postagens dos fanáticos.
Perderam os amigos que estragaram encontros incríveis porque a discussão política tornou insustentável a roda de conversas. Perdeu o empregado que, pressionado por superiores, chefes e patrões, se viu violentado em sua intimidade e liberdade para escolher seu voto sem ameaças.
Sim, até aqui, perdemos todos!
Ayne Regina Gonçalves da Silva
(É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)