Os padres estavam conversando com o bispo e definiram como seria a sua chegada naquela cidade. Optaram para que, num determinado ponto, fosse se aproximando das pessoas e saudando-as, dando-lhes a mão, manifestando paz e alegria.
Por acaso, acabara de fazer parada por ali um ônibus e as pessoas foram caminhando como que em direção ao bispo. Mas, na verdade, estavam seguindo em frente. Alguns cumprimentaram o bispo, vestido à paisana, e outros dele se desviaram, fazendo cara de quem estranhava essa atitude de aproximação.
O bispo “brincou”, dizendo em voz alta, como se estivesse no meio de seus padres: “que homens são esses que têm medo de gente?” E continuava as saudações às pessoas.
Percebi uma movimentação em alguns. Um preparou sua faca, colocando-a na cintura, à moda do Pantanal. Outro tirou da bolsa um revólver, conferindo se tinha munição, colocando-o no seu paletó. Alguns padres perceberam o ambiente hostil e foram tentando afastar o bispo dessa situação. Nisso o galo cantou e me acordei.
Foi um pesadelo. E comecei a pensar. Por que o pesadelo? Quais as causas? Por que os alimentos que tomei não foram digeridos? O bolo continha leite? Intolerância à lactose? Ou terá sido por aquele doce? Ou o estado emocional por causa da cirurgia das vistas à vista? Pode ser uma parábola?
A nossa missão passa pelo sentido de comunhão, de sinodalidade, que por sua vez supõe diálogos, partilhas, abertura, confiabilidade. Nossa missão de pastores exige coerência com o amor ensinado por Jesus, ao ponto de termos que ser próximos das pessoas, testemunhando a paz e a alegria do Senhor Ressuscitado.
O bispo se apresentava nas vestes civis, e não revestido de sua autoridade ou representação da instituição. Por não ser conhecido, alguns se desviaram e tiveram um olhar de reprimenda. O jeito de se cumprimentar é próprio de quem se conhece. A cena ficou parecida com o “momento da paz” nas celebrações eucarísticas. Mas nem todos tiveram essa forma de visão (divisão?).
Essa brincadeira, essa forma de falar, de comunicar-se, significou agressão a esse grupo de pessoas. Portanto, foi uma brincadeira agressiva, bem o inverso do que ele queria transmitir, ou seja, a paz.
Aqueles que se sentiram ofendidos, preparam, a seu modo, uma possível resposta. Esse é o modo da lei da selva, onde não há diálogo e sim ações à base da força, da violência. De qualquer maneira, temos uma missão a cumprir. Paz para quem é de paz e prudência para com as serpentes sempre prontas (armadas) para dar o bote.
Afinal, as serpentes não sabem se sua aproximação é de amor e paz, ou se você está encurralando-as para agredi-las. Mesmo na missão de paz é preciso muito cuidado, porque uma multidão tem o estado emocional alterado, por causa da busca de um novo ponto de vista.

  • Pe. Antônio de Jesus Sardinha (Vigário Geral da Diocese de Jales)

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