Um dos grandes nomes de heroísmo nacional é Tiradentes. Sua imagem forte está presente na consciência dos brasileiros. Trata-se do mito construído pela República, que veio mais tarde, a partir de Joaquim José da Silva Xavier – O Tiradentes, membro da Inconfidência Mineira. Em frase atribuída a Tiradentes ele apresenta seu sonho: “Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação”. E, por sonhar com um país livre da dominação e exploração colonial, tornando-o uma grande nação este pôs “as mãos na massa” e junto com seus parceiros, promoveu a “Inconfidência”, em razão da qual foi levado à forca.
O sonho de Tiradentes de transformar este país em uma grande nação, depois de 230 anos, ainda está por se realizar. Apesar do Brasil ser um país rico, somos campeões mundiais em desigualdade social. Segundo pesquisa Datafolha do final de março, 1 de cada 4 brasileiros afirma que a quantidade de comida disponível é inferior a necessária.
Apesar da enorme desigualdade social que marginaliza o povo brasileiro, em 2021, o pior ano da pandemia, os recursos para enfrentar a Covid-19 caíram 79% em relação a 2020. A saúde perdeu R$ 10 bilhões em termos reais entre 2019 e 2021, quando subtraídas as verbas destinadas ao Sars-CoV-2; a habitação de interesse social não gastou qualquer recurso entre 2020 e 2021; a área de assistência para crianças e adolescentes perdeu R$ 149 milhões entre 2019 e 2021, valor esse que equivale a 39% do que foi gasto em 2021; a educação infantil viu seu orçamento diminuir mais de quatro vezes em apenas três anos (INESC, abril de 2022).
De forma preconceituosa, muitos atribuem os problemas nacionais a culpa de nosso povo que, reassumindo ideias eugenistas de superioridade étnica, nos percebem como um povo inferior e expressa seu complexo de povo “vira lata”. Não somos um povo inferior aos demais e podemos sim, como sonhou Tiradentes, “… fazer desta país uma grande nação”. Para tanto é preciso implementar aqui as políticas de bem estar social, defendidas por John Maynard Keynes, economista inglês, e adotadas na Europa após a 2ª guerra mundial. Saúde, educação, moradia, dignidade, dentre outras, precisam ter políticas públicas que as promovam para todos.
Com prioridades voltadas para o ser humano para superar a desigualdade, fazer valer a justiça e promover a vida cidadã, atenderemos a proposta do Reino de Deus pregado por Jesus Cristo: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo, 10, 10).
- Léo Huber (Membro da Pastoral da Cidadania de Jales é mestre em História Social (PUC/SP) e professor do UNIJALES)