Elas nada fazem para piorar o mundo. Mas o pior dos mundos está reservado para elas. O relatório Crianças, adolescentes e mudanças climáticas no Brasil, publicado pela UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, publicado no último dia 9 de novembro, deveria apavorar todas as pessoas de bem. Mas vai passar desapercebido, como todos os alertas que vozes minoritárias, a clamar no deserto das consciências, têm desaguado na insensibilidade.
O que contém esse estudo? Mostra que mais de quarenta milhões de brasileiros com até dezoito anos estão expostos a mais de um risco ambiental. Quais são os tipos de risco? O pior deles é a poluição por pesticida, que atinge quase trinta milhões de crianças e adolescentes. Em segundo, a poluição do ar, com quase vinte e cinco milhões de jovens brasileiros expostos. Depois, as ondas de calor, com aproximadamente catorze milhões de infantes e moços ameaçados. Mas há também falta de água, que impacta cerca de nove milhões de vítimas, as enchentes fluviais, que podem atingir sete milhões e meio de seres vulneráveis e mais dois milhões sujeitos a enchentes costeiras.
O resultado deriva de estudos fornecidos pelo UNICEF, artigos e relatórios de entidades brasileiras e internacionais, com o intuito de se chegar a um diagnóstico da situação climática e ambiental no Brasil. A partir do foco centrado em crianças e adolescentes.
A contaminação por pesticidas, disseminados no ar e na água, compromete o desenvolvimento físico e intelectual desses seres em formação. É inacreditável que o Brasil aceite mais de quinhentos herbicidas proibidos em seus países de origem, aqui livremente utilizados por insanos que só enxergam o lucro e não se preocupam com a saúde alheia.
O desaparecimento de muitos cursos d’água, a eliminação de nascentes que eram abundantes no Brasil antes da chegada lusa, tem sido assimilado por governo e pela sociedade como fatos naturais. Não são! Representam a consequência dos maus tratos infligidos à natureza, nosso maior patrimônio, dilapidado e destruído em grande parte, por insensatez, ignorância e cupidez. Pobres crianças, cujo destino está selado pela crueldade adulta sem freios, nem piedade.
José Renato Nalini (É Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Presidente da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS – 2021-2022)