Jales de Armando Pereira” é um livro que publiquei por ocasião dos 80 anos da fundação da nossa cidade. Pode ser um passeio, ou um filme, que dura apenas 54 páginas, contendo 35 cenas a que nenhum dinheiro hoje poderia nos levar.

Pena que pouca gente viu ou passeou pelo livro. Dos 500 exemplares, cem foram vendidos. Muitos deles graças à boa vontade da Maísa, na Adega Lareto. Assim, existem exemplares espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Londrina, São José dos Campos, Taubaté, Guaratinguetá, Jacareí, Poços de Caldas, São José do Rio Preto, Araçatuba, Votuporanga, Fernandópolis…

Esses cem primeiros interessados concorreram pela Loteria Federal a uma tela original do Armando. O contemplado foi um membro da família Massayoki, hoje residente em Guaratinguetá, mas que por algum tempo morou em Jales e ainda a leva no coração.

“Jales de Armando Pereira” traz textos de Marcos Pachi, Deonel Rosa Júnior, Genésio Mendes de Seixas, José Devanir Rodrigues (Garça), Ariovaldo Luiz Moura e trechos de crônicas minhas publicadas num jornal semanal de Santa Cruz do Rio Pardo, a 400 km de Jales, quando eu jamais imaginava fazer um livro dos quadros do Armando.

Rua Elizabete a partir da esquina com a Rua Costa Rica, sentido bairro-centro no final da década de 1960. Os postes de aroeira chegaram em 1967. Na primeira casa à direita, o farmacêutico Bernardino Mendes de Seixas e dona Teresa criaram seus seis filhos

O texto abaixo está na contracapa do livro:

Existe nos mapas uma cidade que às vezes lembra a Jales de Armando Pereira da Silva. Ela foi fundada por Euphly Jalles, em abril de 1941, nos confins da civilização. Em cartões postais, jornais e uns poucos livros de História, o relato dos guardadores daquela cidade quase sempre repetem o que ainda podemos encontrar à altura do km 585 da rodovia Euclides da Cunha. Porém, um olhar mais apurado logo se anuviará diante das telas de Armando: Quando essa procissão saindo de uma igreja que virou estacionamento? E esses noivos tão altos à porta de outra igreja que virou supermercado? Quem é o sitiante passando de carroça pela antiga zona do baixo meretrício? E esses flamboyants do velho cemitério que ninguém quis fotografar? Onde essa rua além do quadrilátero planejado pelo fundador morto a tiros em 1963?

Pois essas e tantas outras cenas não mais existem, assim como a cidade dos filmes de Fellini não é a Remini que podemos ainda hoje visitar no norte da Itália; como também não se sabe se existiam ou não as cidades invisíveis que Marco Polo tão bem detalhava para entreter o imperador Kublai Klan.

A Jales de Armando Pereira da Silva não está no começo, no meio, ou no fim da estrada – de nenhuma estrada. As suas coordenadas nunca foram altitude, latitude ou longitude. E assim como não se chega a Macondo por caminhos de terra, de água ou de ar, a essa cidade do Armando também só se chega pelas vias enganosas da memória.

Luiz Carlos Seixas

Luiz Carlos Seixas
(Escritor, ativista cultural, compositor e instrumentista)

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