Sexta-feira, 10 de março de 2023, como de praxe, acordo, procuro, digitalmente, me inteirar das notícias diárias sobre economia, educação, saúde, mas eis que me deparo com uma manchete de uma ‘tal’ MC Pipokinha. Em síntese, ela compara seu salário com a de uma professora. Debocha dizendo que para rebolar a bunda ganha 70 mil em um baile de 30 minutos enquanto a docente 5 mil.
A fala foi dita em uma live após uma aluna comentar que havia brigado com a professora por causa da funkeira. Citados na matéria, alguns comentários de internautas esculachando Pipokinha. Mas por quê? O que ela disse de errado? Seria o reflexo de uma sociedade materialista e culturalmente retrocedida?
Na contemporaneidade, famílias, no geral, querem que os filhos se ‘deem bem na vida’ financeiramente. Oras, MC Pipokinha, ainda que com talento contestável, cumpre bem seu papel até aqui, não é? 70 mil por 30 minutos? Nada mal. Será que, desde pequenos, não alimentamos o sonho da grana e sucesso: ser jogador de futebol, artista, youtuber, modelo?
Em 2018, uma pesquisa realizada pela instituição internacional Varkey Foundation, que realiza ações em prol de uma boa educação, dos 35 países entrevistados o Brasil ficou em último na temática sobre se a sociedade valoriza o professor. Outra informação é que apenas 9% dos brasileiros acreditam que o aluno respeita o docente, o que também acaba colocando o país na última posição em mais outra categoria. “Pipokinha” mentiu? Insultou? Não. Até aqui a sociedade apenas experimenta o sabor amargo da escassez de investimentos educacionais no país e sabe o que dói de verdade?
Dói é sabermos da realidade. Dói é sabermos que, camuflados de falsidade, políticos e sociedade aplaudem esta barbárie. Dói é o professor não ter estrutura para desempenhar a função. Dói é o professor não ter reajuste digno. Dói é o professor não poder ficar doente. Dói é saber que professor é pago por subsídios. Dói é professor não ter plano de carreira. Dói é professor não ter fundo de garantia. Dói é professor não ter segurança no trabalho. Dói é professor ser desrespeitado diariamente. Isso sim dói MC Pipokinha, dói e dói muito.
Rodrigo Martins Bordin
Atualmente exerce cargo de professor e coordenador na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo