Iluminados pela mensagem de São Paulo, que afirma: “É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação” (2Cor 6,2), iniciaremos na próxima quarta-feira este tempo de graça e salvação, o tempo quaresmal. Ele nos prepara para a Páscoa do Senhor. Devemos fazer deste tempo uma ocasião propícia de encontro e caminhada com Cristo, nos deixando ser contagiados pelo seu amor, através de uma espiritualidade profunda e comprometida, na construção do Reino de Deus. Este mesmo amor renova, transforma, tornando-nos criaturas novas.
A Palavra que sempre nos coloca em sintonia com o Criador, nos leva a sair de nós mesmos, superando toda alienação existencial, nos despertando para a grandeza da vida em Cristo. Isto significa: assimilar, acolher o seu projeto. Assim, somos convidados à prática das obras de misericórdia. Estas nos ajudam a compreender a essência de Deus, e que, para sermos cristãos verdadeiros, devemos agir com misericórdia e amor. É assim que deve-se dar a nossa conversão pessoal, comunitária e social, buscando o Senhor, encontrando-o: na Palavra, na eucaristia, na oração e na vida dos que sofrem.
Portanto, entendemos que a quaresma nos convida a abrirmos o nosso coração para Deus, reconhecendo as nossas fragilidades humanas, nos colocando diante dele com o coração contrito, dispostos à conversão.
A prática da oração, do jejum e da esmola (caridade), são fundamentais. Pela oração nos entregamos confiantes a Deus, criando comunhão, experimentando o seu amor, sendo fortalecidos e animados pela sua presença.
Pelo jejum nos desapegamos de nós mesmos, renunciando ao egoísmo, superando as alienações, abrindo nosso coração para os necessitados. O profeta Isaías nos diz qual é o verdadeiro Jejum: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne” (Is 58,7).
A esmola, ou melhor, a caridade, nos leva a compreender a Campanha da Fraternidade. Ela nos ajuda a tomar consciência das nossas responsabilidades, quanto às transformações espirituais, sociais, político-econômicas e ecológicas. É o nosso envolvimento com o outros, com os mais necessitados, com a vida e o bem-estar de todos, inclusive, do meio ambiente.
A fome de tanta gente é uma realidade triste e dolorosa. Não podemos ficar indiferentes diante de tanto sofrimento. O tema: “Fraternidade e fome”, com o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), nos leva a compreender que a fome é um problema que envolve a todos. E este precisa ser solucionado com políticas públicas adequadas, que favoreçam os mais necessitados, e com nossa solidariedade fraterna.
Com esta Campanha da Fraternidade, a Igreja no Brasil quer: “Sensibilizar a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo.” Eis a proposta! Vamos assumi-la!
Diante do sofrimento de uma multidão, não calemos a nossa voz. Antes, abramos o nosso coração. Sejamos mais humanos, numa sociedade muitas vezes desumanizada. Procuremos ser mais solidários! Sejamos comprometidos com a transformação da sociedade, pela força do Evangelho, para que esta seja mais justa, e assim, todos possam viver com dignidade.
Pe. Maximiano Pelarim Neto
(Assessor Diocesano da Pastoral Familiar)