Com a celebração do Domingo de Ramos da Paixão do Senhor iniciamos a Semana Santa ou, como se dizia no início da era cristã, a Grande Semana. Isso demonstra a preocupação da Igreja, já em suas origens, de solenizar a celebração da paixão, morte e ressureição de Jesus, não apenas como lembrança de fatos passados, mas sim como memória e atualização dos gestos de salvação realizados por Jesus Cristo.
Nos dois últimos anos, em virtude da pandemia de Covid-19, os cristãos não puderam celebrar a Páscoa nos templos religiosos, mas em suas casas. Neste ano, as liturgias da Semana Santa poderão ser vivenciadas nas igrejas, com a participação dos fiéis. Assim sendo, faz bem rememorarmos o sentido original da Páscoa bem como a importância de sua celebração em comunidade.
A antífona de entrada da Missa da Ceia do Senhor faz com que a assembleia celebrante viva, aqui e agora, o mesmo mistério vivido pelos seguidores de Jesus: “A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: nele está nossa vida e ressureição; foi ele que nos salvou e libertou” (Cf. Gl 6, 14). Isso posto, reconhece-se que em cada rito ou ação litúrgica o fiel não apenas participa mas, sobretudo, recebe a graça do Cristo que se entrega nas espécies do pão e do vinho, sofre a paixão, morre na cruz, é sepultado e, ao terceiro dia, ressuscita.
O Mistério Pascal de Cristo, celebrado de modo solene na Semana Santa, começa a ser revelado na Encarnação do Verbo que habitou entre nós e culmina na doação da vida de Jesus na cruz e na sua ressureição dentre os mortos por meio do Pai. Deste modo, a realidade pascal da cruz e da ressureição são, portanto, o modo com que Deus realiza sua dedicação em salvar e libertar o ser humano.
Não há sentido celebrar a paixão e morte de Jesus sem unir as cruzes e mortes do povo de Deus à cruz do Senhor. Pensemos nos horrores das guerras, em tantas vidas perdidas e feridas nesta pandemia e em tantos seres humanos privados de sua humanidade; o sangue e a água que vertem do peito aberto de Jesus redime e salva a todos. Por outro lado, a ressureição de Jesus é garantia de vida plena aqueles que seguem o caminho do Filho de Deus; o sepulcro vazio é sinal de esperança para todo cristão, na certeza que a morte não é o fim e que em cada gesto de amor manifestado entre os seres humanos a ressureição de Jesus continua a acontecer em nosso meio.
Na Vigília Pascal, ao acender o Círio, presença real do Ressuscitado, o sacerdote diz: “A luz de Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as trevas do nosso coração e da nossa mente”. Eis aqui a razão do ser cristão: permitir que a luz vença as trevas, que a graça vença o pecado e que o Mistério Pascal de Cristo se manifeste em nossa vida.

  • Igor kawakame Rathlef (Seminarista da Diocese de Jales)

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