Se precisarmos de parar mais alguns minutos, para lermos com mais profundidade este artigo, a resposta provável poderia ser “não”, que cheguemos a conclusão de termos outras coisas mais importantes para serem feitas e que não podemos perder tempo, ou, que já não temos muito tempo disponível para o que realmente importa.
A filósofa francesa Simone Weil, reflete que “a atenção é a forma mais rara e mais pura de generosidade”. Assim, talvez precisemos estabelecer uma ideia sobre o lugar da atenção do nosso tempo, pois existe uma série de pesquisas que falam sobre o encurtamento da nossa capacidade de prestar atenção por muito tempo em alguma coisa, e pensar que essa capacidade acompanha o caminhar do tempo.
Se olharmos na antiguidade, existe uma escultura do filósofo Aristóteles lendo numa cadeira e segurando uma bola com o peso em uma mão, pois se ele dormisse enquanto lia, soltaria a bola e acordaria para voltar à sua leitura, significando o hábito de atenção que os antigos tinham.
O livro de Eclesiastes, nos recorda que “existe um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu, tempo de nascer, tempo de morrer; tempo de plantar e de arrancar a planta…” (cf. 3,1-2s), para indicar que todo homem, ao invés do que acredita, dispõe somente do presente para agir, podendo fazer cada coisa no tempo certo.
Então, ou desenvolvemos o entendimento de que cada época vai trazer uma possibilidade de consciência e de atenção e se isso ainda é possível hoje? Ou será que a eletricidade, a tecnologia e a rede social, interromperam essa possibilidade em nós?
Um evento do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, aponta que estamos atravessando esse tempo onde não paramos para entender o mundo que nos cerca, e acabamos querendo um manual, uma receita, uma lista do que fazer, afim de não precisar de parar para absorver o que queremos conhecer. Aqui, podemos pensar quais são as nossas possibilidades de compreensão sobre a atenção gasta para realizarmos um projeto e quais são os resultados que obtemos nesse tempo hiper acelerado.
Como resultado, podemos ver que em muitos casos a impossibilidade de fazermos uma coisa de cada vez, nos leva ao comportamento de uma máquina, que não para e acaba transformando seu tempo de descanso em mais trabalho, como aponta o pensador Byung-Chul Han, professor de filosofia e estudos culturais da Universidade de Berlim, em seu livro Sociedade do Cansaço. Basta pensar, por exemplo, no que a rede social vende pra quem anuncia nela, e a resposta que teremos será que a rede social vende a atenção que julgamos não ter mais.
Com isso, é preciso uma reflexão sobre quanto tempo dedicamos e quanta atenção conseguimos dedicar para quem está ao nosso lado e não contra nós, para que possamos parar de trabalhar para quem nos oprime, escraviza e mal trata e que possamos usar nossa atenção para construir o que realmente importa em nossa vida. Aproveitar o tempo que temos para fazer o bem acima de qualquer coisa.
- Jean Ferreira (Estudante da Teologia e Seminarista da Diocese de Jales)