Compreender os conflitos nas diferentes faixas etárias é importante para fazer intervenções que auxiliem as crianças a construir recursos para lidar melhor com eles, já que eles tendem a acontecer por volta de 10 vezes por dia.
Na Educação Infantil, é normal acontecerem as disputas por objetos e espaços. Assim, teimam por um brinquedo, mesmo tendo outros à disposição. Choram por uma boneca mesmo tendo várias, agridem por um carrinho, mordem por um jogo, etc.
A criança pequena está iniciando a socialização e não desenvolveu a noção de propriedade e o significado de dividir, compartilhar ou emprestar. Ela ainda tem dificuldades em cooperar, compartilhar e coordenar seu desejo com o desejo do colega. Nessa idade, as intervenções dos educadores ou cuidadores devem colaborar para lidar com o que pertence a ela e ao outro.


Ela precisa aprender expressar através da fala o que deseja e o que sente para o coleguinha ou para seus cuidadores.

Como isso é difícil, já que ela ainda não possui essa habilidade estratégica de resolver esses conflitos pontuais, de início pode-se dizer a ela, de maneira amorosa, ensinando-a a repetir que pode compartilhar o brinquedo e assim juntos acharem uma solução mais “pacífica” para aquele momento. O cuidador pode tornar-se parte da brincadeira de modo a harmonizar aquele desequilíbrio, assim a criança se sentirá integrada no processo do brincar e ficará tranquila quanto a possibilidade de ter que dividir, já que existe um adulto ensinando e mediando, de maneira direta, que é possível resolver os conflitos. Logicamente que de primeiro momento o cuidador deve observar se as crianças conseguirão sozinhas equilibrarem essa disputa. Ele só fará parte quando perceber que as crianças não conseguirão êxito. O brincar deve ter sempre o cunho de ludicidade e não de geração de conflitos. Retirar bruscamente o brinquedo disputado, não aumenta o repertório socioemocional da criança, pode pelo contrário, gerar um sentimento de perda, desvalia e raiva inexplicáveis. Por essas e outras situações insistimos tanto no termo *disponibilidade afetiva, pois quem cuida deve empregar seus recursos emocionais sempre que houver essa demanda.
Para a criança pequena o desenvolvimento do pensamento moral só se dará a partir da percepção da existência do outro. Isso quer dizer que é importante o desenvolvimento da capacidade de diferenciar e integrar os próprios sentimentos e os do outro. As intervenções devem ser sempre pontuais, amorosas e equilibradas para que a brincadeira seja uma oportunidade de aprendizagem e desenvolvimento das competências socioemocionais.
Outra situação muito frequente, na faixa etária (0 a 4 anos), é o comportamento agressivo e choro frequente durante as disputas por objetos ou a uma contrariedade como respeitar as regras ou normas. Uma das causas mais comuns nesse tipo de comportamento está ligada a vivência da criança onde há desavenças familiares e os conflitos do mundo dos adultos as afetam diretamente, isso repercute no seu comportamento socioemocional. Fica as vezes mais chorosa, agressiva, depressiva, desafiadora e frequentemente doente. Toda relação que envolve criança deve ser a mais acolhedora e saudável possível, mesmo que os adultos tenham problemas. Elas “sabem”, mesmo sem saber, quando algo não vai bem e todo esse conflito virá à tona, pois no seu mundo íntimo “a casa está caindo” e precisa se ancorar em afetos seguros. Cuidar de criança em pleno desenvolvimento da personalidade não é tarefa para amadores, precisa-se compreender o mínimo possível do universo infantil para colaborar com o futuro dessa criança.

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