Em “No caminho, com Maiakóvsky”, o poeta e dramaturgo carioca Eduardo Alves da Costa escreve, no trecho mais conhecido da obra: “A primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada.”
O texto foi escrito na década de 1960, no auge da ditadura militar no Brasil (1964-1984), e faz uma clara referência aos “anos de chumbo”, quando não haviam liberdades para o povo, faltava a democracia.
Democracia é uma palavra que vem do grego. Nessa língua, “demos” significa povo e “cracia” quer dizer poder. Unindo as duas temos que democracia significa “o poder do povo”. E como esse poder se consolida? Por meio de eleições. O povo escolhe seus representantes para governar.
Historicamente, a democracia foi implantada no Brasil com a Proclamação da República, em 1889. Nela, os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) governam cuidando de implantar as leis, criar as leis e fazer cumprir as leis, respectivamente.
Dos 193 países reconhecidos internacionalmente pela ONU (Organização das Nações Unidas), 167 são democráticos. Há uma frase emblemática de Winston Churchill, primeiro ministro da Grã-Bretanha, que em 1947, na Câmara dos Comuns da Inglaterra, teria afirmado: “a democracia é a pior forma de governo, à exceção de todas as demais formas que têm sido experimentadas ao longo da história”. Leia novamente e preste atenção na ironia, caro leitor.
Os brasileiros concordam com Churchill, que de todas as formas de governo experimentadas até hoje, a democracia é a “menos pior”, com perdão para a expressão popular. Em uma pesquisa recente, o Data Senado divulgou que a maioria de nós, 58% dos entrevistados, preferem a democracia e apenas 17% preferem um governo autoritário. Entretanto, lideranças políticas, intelectuais, empresários, estudantes e todos os demais setores da sociedade brasileira sentem, no ar, uma ameaça a esse sistema.
Tanto que a USP (Universidade de São Paulo) e agora a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) lançaram manifestos públicos pela democracia. Os documentos estão circulando na internet – e serão publicados nos veículos de comunicação tradicionais – com o apoio, por meio de assinaturas, de milhares de brasileiros.
É fácil entender os motivos. Esse ano teremos eleições majoritárias, escolheremos o futuro presidente do país, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Há muitos interesses em jogo.
E a recente experiência norte-americana de invasão do Congresso para rejeitar o resultado das urnas por parte de um grupo inflamado pelo então presidente Donald Trump ainda repercute e, infelizmente, serve de inspiração para grupos extremistas também aqui.
O que todos queremos ou pelo menos deveríamos querer? A manutenção da democracia. Como? Respeitando os resultados das urnas. Afinal, a maioria deseja a democracia. Então, ela não deve ser colocada em jogo.
- Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)