No poema “Soneto de Fidelidade”, de Vinicius de Moraes, o autor aborda o amor escrevendo: “… Que não seja mortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure.” A metáfora amor-chama indica claramente que para tudo existe um princípio e um fim.
Nesse mesmo sentido, há uma passagem bíblica que reforça essa ideia. Em Eclesiastes 3:1-8 está escrito: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar. Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar. Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar. Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora. Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar. Tempo e amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”
Assim, cabe a nós, seres humanos, entendermos o fim como parte do processo, tão natural quanto a vida e a morte. Há muitos já sabemos que a verdade diante da vida, a morte. Ninguém, até hoje, conseguiu vencer essa batalha. Então não há porque brigar diante de outros finais, felizes ou infelizes. Cabe aceitar. Isso vale para relacionamentos, trabalho, política, tudo enfim.
Enquanto escrevo, penso nos finais que já vivi. Dos mais simples, as trocas de emprego, aos mais complexos, as despedidas de quem amamos, essas, com certeza, as piores. Mas até no luto as forças brotam, como se a vida teimasse em viver, colorir o que ficou cinza.
Por tudo isso e diante da minha insignificância perante o universo, recomendo a resiliência. Forças par amar o que não pode ser mudado. Mas, ao mesmo tempo, uma imersão no “mindfulness”, a concentração máxima no momento presente com plena consciência dos nossos sentimentos e emoções.
Sem consciência dos fins, sem a noção de que nada é eterno, sem a maturidade para entender os avessos da vida e os tropeços ao longo da jornada, o que sobra é a inconsciência, a alienação e a medicação. Muita droga – legal e ilegal – para aliviar a dor no não ser/estar consciente.
Os finais que doem não precisam ser celebrados, mas os outros, que só significam passagem, devem ser festejados sim! São novos começos, novas histórias, novas oportunidades, pelo menos até o fim.

Ayne Regina Gonçalves Salviano (Mestre em Comunicação e Semiótica e gestora educacional)

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