Os cientistas orientam a não abolir o uso de máscaras para a prevenção da covid-19. Os políticos fazem decretos autorizando a abolição da medida preventiva. O povo, com tanta informação, mas sem nenhum conhecimento e senso crítico, escolhe aquilo que lhe agrada mais. Uma sociedade moldada no “fazer o que eu quero” e não “no que eu devo”, qual a chance de dar certo?
É certo que há direitos individuais. Tão correto como reconhecer os direitos coletivos. Entretanto, há dúvidas em qual deve prevalecer para a manutenção harmônica de um grupo. Isso acontece porque a maioria dos brasileiros não têm o senso de coletividade.
Imagino o cenário da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Sei da lei marcial pela qual homens entre 18 e 60 anos não podem deixar o país porque estão automaticamente convocados para lutar pela liberdade do seu país. Mas em todas as entrevistas, de todos os veículos de comunicação, não há nenhum ucraniano revoltado com a medida. Ao contrário, querem lutar e não fugir. Encaminham suas mulheres, crianças e idosos para viverem em segurança fora da zona de guerra, mas permanecem no front mesmo sem nenhuma experiência militar.
Fico pensando: e se fosse no Brasil? Já há uma multidão que deseja cruzar fronteiras sem estarmos em guerra contra nenhum outro país. Nossa guerra é interna, contra a desigualdade, a fome, o abandono, o preconceito. E todos que podem, escolhem cruzar fronteiras, até clandestinamente. Preferem uma vida ilegal em outras terras a lutar pela melhoria da sua aqui.
Mas como melhorar o que parece não ter jeito? Estudando e trabalhando. E elegendo melhor nossos representantes. Sim, é certo que estudar está cada vez mais difícil. Os cursos de nível superior parecem uma utopia cada vez mais distante para quem não tem condições de pagar por eles. Então é preciso lutar por maior acessibilidade nas universidades públicas para as pessoas carentes. E também por mais Fies, Prouni e outros tipos de financiamento.
Trabalhar com carteira assinada e direitos trabalhistas garantidos também parece um sonho cada vez mais distante. O discurso do empreendedorismo, nesse país às avessas, ajuda mais a informalidade e a precarização do que o espírito empreendedor, infelizmente. Como tornar o país um lugar mais produtivo, com economia crescente. Primeiramente, precisamos de alguém no comando que não trabalhe com estatísticas fantasiosas que afirmam que cada brasileiro tem dois iphones. E nem se incomode com empregadas domésticas passeando na Disney.
A anedota que afirma que o Brasil é o melhor país do mundo, o problema é o povo precisa ser mudada urgentemente. E será, com gestores públicos que pensem em diminuir a desigualdade econômica e social não por ações populistas, mas de efeitos concretos. Investir em educação e abrir postos de emprego precisam ser prioridades dos novos governantes. Prestemos atenção aos discursos, mas analisemos principalmente os planos de governo. Analisemos a viabilidade de cada proposta (porque prometer e não cumprir é a especialidade do político brasileiro) e votemos com consciência nesse e em todos os outros pleitos.
Quem sabe assim, mais informados e repletos de amor à terra, possamos reconstruir nossa Ucrânia particular.

  • Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jornalista, professora mestre em Comunicação e Semiótica. Empresária no ramo da Educação em Araçatuba e Birigui )

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