Era uma vez um casal. A mulher ficou grávida de outro homem. Por mais estranha que fosse a história contada por ela, o companheiro não a agrediu, nem a espancou ou a matou. Ao contrário, acreditou nela e a amparou.
Parecia que as coisas tinham se acalmado, mas no final da gestação, quando ela estava quase para dar à luz, eles tiveram que abandonar sua casa às pressas e fugir para uma terra estranha porque estavam sendo perseguidos. Imigrantes em situação de rua, não tiveram ajuda de ninguém, todos desconfiavam deles e a criança nasceu em uma estrebaria, no chão sujo de feno, junto com outros animais.
Mas o menino foi crescendo esperto. Desafiava até os adultos nas conversas quando eles pregavam umas ideias de um Velho Testamento baseadas em muitos radicalismos e violência. Ele não, ele falava de amor. Ele era puro amor. Devolvia a vida aos mortos, curava os doentes, matava a fome da multidão ensinando a dividir o pão e não permitia que pecadores atirassem pedras para matar pobres mulheres. Hipocrisia na frente dele, não!
O tempo foi passando e agora já homem feito, na casa dos 30 anos, ele realmente enfureceu os poderosos porque dizia verdades e ninguém conseguia argumentar com ele. A inveja dos tiranos, a fraqueza de quem poderia fazer justiça, a traição (por dinheiro) de um amigo e uma sociedade ignorante e bestificada promoveram a sua prisão e condenação, ambas injustas.
Como todo pobre sem chance de defesa, mas exposto a um grande espetáculo, ele sofreu na pele todo tipo de humilhação e violência que se possa imaginar. E mesmo assim perdoou todos aqueles homens. Ele morreu para que todos se salvassem. E mais de 2 mil anos depois ainda contamos as mesmas histórias que se repetem cotidianamente no noticiário.
Se hoje você comemora o Natal, aproveite para dividir a sua ceia ou seu almoço com as pessoas necessitadas. Elas são muitas. Para enxergar, basta esticar o pescoço além da sua bolha. Temos 33 milhões de brasileiros que vão dormir sem comer hoje. E mais de 112 milhões que estão em insegurança alimentar, pois só fizeram apenas uma das três refeições do dia.
Se você vibra celebrando o nascimento de Jesus Cristo hoje, aproveite para eliminar seus excessos e dividir suas roupas e calçados com quem não tem quase nada. Você sabia que ainda há famílias onde crianças e jovens não vão à escola porque não tem calçados? Onde pais e mães não conseguem empregos porque não tem algo bom para vestir e se apresentar na entrevista com os patrões?
Se você, hoje, vibra celebrando o nascimento de Jesus Cristo, se você crê em uma igreja de amor, seja amor. Pare de julgar os outros, de falar mal dos outros, de fazer fofocas, de criar fake news. Abandone a inveja. Não seja preconceituoso, homofóbico, transfóbico, xenófobo, racista, misógino, sexista, gordofóbico. Ao contrário, seja empático e altruísta. Pare de querer levar vantagem em tudo e aumentar toda e qualquer tipo de desigualdade, que já é absurda.
Mas caso você não consiga fazer nenhuma dessas ações, então, por favor, só comemore o dia 25 de dezembro como uma festa qualquer, mas nunca use o nome de Cristo em vão.
Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)