Cada dia mais pessoas, de todas as idades, no mundo todo, vêm percebendo que não estão conseguindo mais se concentrar, seja para uma leitura de textos mais longos, seja para um estudo focado.
Não é incomum ouvir de estudantes, das mais diferentes séries, que eles não conseguem ler uma página inteira, ou uma matéria longa na revista, muito menos um livro. Com pouco tempo de leitura, eles já se perdem, não entendem mais o que estão lendo.
Essa dificuldade de apreensão das palavras, de compreensão das ideias e da interpretação de textos tem um nome entre os especialistas, trata-se da demência digital, essa dificuldade de concentração e foco provocada pelas telas dos equipamentos eletrônicos como celulares e computadores.
Não é difícil entender o processo. Com a internet e, mais recentemente, as redes sociais, gerações inteiras passaram a ser muito estimuladas para fazer várias coisas ao mesmo tempo. Um exemplo: enquanto jogam no computador, muitas pessoas respondem aplicativos de mensagens, ouvem música, postam nas redes sociais, tudo junto ao mesmo tempo.
Mesmo quem está apenas nas redes sociais muda muito rapidamente do stories para o reels, depois para o TikTok, o Twitter, o Thread, o Discord, o Telegram, o WhatsApp, o Pinterest e mais uma série de outros espaços que exigem muita agilidade e pouco pensamento. É o fazer sem raciocinar.
E quando uma pessoa passa horas treinando o cérebro para ser ágil em várias atividades ao mesmo tempo e não focar em nada específico, não consegue desacelerar para ler palavra por palavra, período por período, parágrafo por parágrafo, página por página.
Resultado, a atenção exógena difusa torna as pessoas distraídas, sem foco nem concentração. E quando estão nessa fase, também ficam bravas, raivosas e violentas consigo mesmo (por causa das limitações) e com qualquer outra pessoa que os questione, pais, professores, quem quer que seja.
Tudo isso é muito ruim para o estudante e o professor, para o trabalhador e o empregador. É ruim para o indivíduo, mas especialmente para a sociedade porque ela passa a ser composta por seres não pensantes, que muitas vezes nem entendem orientações ou ordens colocando em risco a si e aos outros.
Se formos analisar que pais têm dado equipamentos eletrônicos aos seus filhos cada vez mais cedo e, raramente, fazem o controle da quantidade do número de horas que crianças e adolescentes passam diante das telas, o problema fica mais preocupante ainda.
Já temos um dado assustador, o QI (Quociente de Inteligência) das novas gerações já é mais baixo do que do seus pais. No livro de título pouco sutil, “A Fábrica de Cretinos Digitais”, o pesquisador e neurocientista francês Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, apresenta, com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais estão afetando seriamente — e para o mal — o desenvolvimento neural de crianças e jovens.
Segundo o pesquisador, as telas provocam a diminuição da qualidade e quantidade das interações intrafamiliares, essenciais para o desenvolvimento da linguagem e do emocional. Também são responsáveis pela diminuição do tempo dedicado a outras atividades mais enriquecedoras, como a lição de casa, a música, a arte, a leitura, entre outros.
Além disso, as telas perturbam o sono, que é quantitativamente reduzido e qualitativamente degradado; superestimulam a atenção, levando a distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade; e causam a subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial. Por fim, provocam o sedentarismo excessivo que, além do desenvolvimento corporal, influencia a maturação cerebral.
A saída? Menos telas para pais e filhos, adultos, jovens e crianças. Conseguiremos?
Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jornalista e professora. Mestre em Comunicação e Semiótica. Empresária no setor de educação em Araçatuba e Birigui)