Qual o impacto da pandemia de covid-19 nos jovens estudantes? Por anos os especialistas vão se debruçar sobre esse tema e, talvez, daqui a alguns anos, consigamos efetivamente dimensionar os aspectos positivos e negativos desta etapa da história na construção – ou desconstrução – do conhecimento.
Até lá, restam-nos apenas pequenas observações no cotidiano escolar, como esta que compartilho agora. Outro dia, em sala de aula, me incomodou a dificuldade dos alunos de ficarem sentados, atentos. Eles se movimentavam o tempo todo nas carteiras, inquietos, muitos, inclusive, sem nenhuma compostura diante das outras pessoas que dividiam o ambiente.
Falavam com os colegas ao mesmo tempo que pegavam objetos, fechavam bolsas ou estojos, ou se abaixavam entre as cadeiras em movimentos que mais pareciam de ansiedade do que necessidade. Parei a aula.
Fiz um discurso sobre a necessidade de focarem em um objetivo cada vez mais difícil: passar no vestibular de universidades públicas. A aula acabou e pela reação deles percebi que eles não entenderam a minha preocupação.
Mais tarde, refletindo sobre o acontecimento, percebi o quanto eu tinha sido ingênua. Havia me esquecido do básico, eles são a geração pós-covid do ensino. A sala em questão começou o primeiro ano de um novo ciclo justamente no início da pandemia. Tudo o que eles conheciam de escola tinha ficado para trás e o “mundo novo” do ensino médio foi descoberto de dentro dos seus quartos.
Mas, sem querer ser ingênua, vamos lembrar que milhões de estudantes pelo mundo apenas ligaram os seus computadores para marcar presença na aula e voltaram a dormir, por dois anos.
Então, como agora vão aguentar a cadeira dura, o tênis apertado e o professor falando sem deixá-los olhar as redes sociais ou jogar videogame pelo celular?
Eles não puderam se socializar por dois anos. Não vivenciaram o cotidiano escolar com aulas, provas, pressão, gente surtando porque não chegou na média do bimestre. Nem reprovação teve na pandemia. Como agora, de uma hora para outra, entenderão o funil do vestibular, o “não” para os sonhos, entre as outras tantas frustrações da vida real?
Nós, educadores, temos um enorme problema nas mãos. Esses estudantes não serão como eram os antigos antes da covid. Dessa forma, não podemos agir com eles como agíamos no passado. Precisaremos ensiná-los, primeiro, a gostar de estudar. Mas como, se não há, nas escolas, o que eles mais gostam: tecnologia, jogos, redes sociais, vida virtual repleta de filtros? Uma nova escola se faz necessária.
A título de comparação, a primeira fase da primeira prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) pós-pandemia, feita com turmas que tiveram principalmente provas on-line nas suas graduações, resultou em uma reprovação de aproximadamente 80% dos candidatos. Estamos falando que a grande maioria dos acadêmicos brasileiros de Direito não acertou 40 dos 80 testes para prosseguir na segunda etapa. Mas eles são apenas um exemplo.
O caso da Educação pós-covid no Brasil é triste e verdadeiro. Preocupante e urgente.
- Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jornalista, professora mestre em Comunicação e Semiótica. Empresária no ramo da Educação em Araçatuba e Birigui )