Estou de mudança. Enquanto empacoto os pertences, penso sobre todas as vezes que deixei um lugar para ir para outro. Novos espaços, novas etapas, novas histórias. Com você também é assim? Gosta de mudar ou prefere o mesmo cantinho pra sempre?
Na primeira vez que mudei, deixei a casa e a proteção dos meus pais em uma cidadezinha do interior para morar na capital onde fui cursar a faculdade. Mudança de espaço geográfico sim, mas, principalmente, de mentalidade. Uma adolescente se transformou rapidamente em uma adulta.
Resolver problemas sozinha. Descobrir-se desprotegida e vulnerável. Mas também trabalhar, se sustentar e conhecer amigos que duram uma vida inteira. Muitas saudades da avenida Paulista, esquina com a rua Brigadeiro Luiz Antônio.
Na segunda mudança, fiz o caminho contrário sete anos depois. Da capital de volta à casa dos pais na cidadezinha do interior, de onde saí novamente para casar. E como quem casa quer casa, nos mudamos para um imóvel alugado, que era tudo o que o nosso dinheiro podia pagar.
Com o passar do tempo, fizemos uma trajetória incrível. Da casa alugada para a primeira casa própria, pequena, para a chegada dos filhos. E da casa própria pequena para a casa própria grande, porque os filhos estavam crescendo.
Da casa grande para o apartamento grande no mesmo prédio dos avós, que ajudariam no leva-e-traz dos pequenos: escola, natação, futebol, ballet. Não deu tempo. Do apartamento grande para uma cidade maior, na casa enorme alugada.
E, então, da casa alugada para a casa própria, pequena perto da escola das crianças. De lá, para a casa grande, própria, no condomínio fechado, onde os filhos tinham piscina, podiam andar de bicicleta, jogar bola e brincar na matinha.
Da casa grande no condomínio distante para o apartamento novo perto da escola, onde os filhos poderiam ir a pé. E com os filhos estudando fora, do apartamento perto da escola deles para outro, perto do nosso trabalho. Nem era preciso mais dirigir.
Veio a pandemia e sobrevivemos. E a ideia de juntar gente querida mais vezes, em um espaço maior, está nos levando de volta à uma casa. Do apartamento do lado do trabalho, agora vamos para um espaço muito especial, mais perto do trabalho ainda, junto com o lazer necessário para os filhos adultos.
Refazendo essa trajetória, lembro que Rita von Hunty, persona do professor Guilherme Terreri Lima Pereira, disse em entrevista ao jornalista Marcelo Tass, recentemente, que “a vida acontece entre os nossos planos”. Faz todo o sentido. Para cada plano, uma mudança, e a vida aconteceu ao longo dessas décadas.
Recebo críticas de pessoas que julgam as minhas mudanças. Fazem “piadas”. Não me incomodam. Eu me identifico muito com uma frase de Chico Buarque que diz assim: “As pessoas têm medo de mudanças. E eu tenho medo que as coisas nunca mudem”. Em literatura tem um título de livro que diz muito sobre isso “A insustentável leveza do ser”.
Outra sensação boa que as mudanças me dão é sobre me desfazer das coisas. Novos ambientes pedem adaptações. Objetos demais vão para o desapego. Roupas demais são doadas. E assim as mudanças vão me mudando.
Ayne Regina Gonçalves Salviano (É MBA em Gestão. Mestre em Comunicação e Semiótica. Empresária do ramo educacional em Araçatuba e Birigui)