As carecas se escondem ou são escondidas?
Apesar do grande número de pessoas em tratamento de algum tipo de câncer que leva à queda dos cabelos, não é comum ver uma careca descoberta pelas ruas.
Imagino que os homens devam lidar melhor com a perda dos cabelos do que as mulheres, pelo menos os que conheci, reagiam melhor e pensando bem, é mais comum mesmo ver homens carecas pelas ruas.
A careca choca! A falta do cabelo em mulheres chama a atenção e puxa os olhares. Será que é impressão de careca isso?
A verdade é que tudo que não é “normal” em nossa rotina, grita aos olhos.
É estranho mesmo, e chega a ser triste, porque essa careca remete automaticamente o paciente a escancarar sua doença. E há quem lide bem com expor o que está vivendo, mas o contrário também acontece.
E então é que imagino que muitas carecas se isolam, se escondem.
E não me venha dizer que cabelo cresce! Sim, ele cresce, mas o processo é lento e só quem passa sabe o que sente. Umas sentem mais, ou demonstram mais, mas toda mulher sente muito a perda dos cabelos.
Acho mesmo que tamanha estranheza seja em parte, falta de mostrar, porque quanto mais se esconde, menos se normaliza a situação. E quantas não são? Diversas pessoas em tratamento dos mais diferentes tipos de enfermidade que podem causar a queda dos cabelos.
Quando eu falo em mostrar, estou falando da mídia também. Alguém já viu alguma repórter de televisão careca? Apresentadora de TV? A Ana Maria Braga foi uma pessoa que expôs mais essa situação e foi representativa. Mas faz tempo né?
Atualmente quem desfila lindamente pelas redes sociais, carequinha, é a Fabiana Justus, após um transplante de medula.
Já repararam que a Xuxa usa o cabelo curtíssimo e que até já raspou? Ela tem história sobre isso para contar: raspou porque presenciou uma cena num hospital em que enfermeiras soltavam os cabelos e diziam que era “para saírem mais bonitas” nas fotos.
Crianças carecas em volta, olhavam. Ela jamais esqueceu aquela cena porque é uma mulher sensível.
E nem foi por maldade, mas esse tipo de falta acaba sendo falta de compaixão, e nos mostra que temos que prestar atenção.
Podemos começar não deixando nos esconderem, que tal? Eu sei que tem o sol, tem o frio, tem ocasiões em que até uma peruca está valendo.
Porque o que importa de verdade é se sentir bem, é ter alguma segurança nessa fase (se é que isso é possível).
Então essa reflexão não quer ser repressiva a quem quer usar turbante, lenço, peruca, chapéu. Cada um sabe onde aperta a sua careca.
A ideia é apenas nos fazer pensar um pouco mais sobre o sentimento do próximo, mesmo que ele não esteja tão próximo a você.
Liberdade para as carecas! Protetor solar, maquiagem e batom! E vamos à luta!
Giana Rodrigues
(Jornalista especializada em assessoria artística, pós-graduada pela Faperp-Cásper Líbero, editora do JJ e paciente oncológica)