Na última quinta-feira, dia 4, por 325 votos a favor e 36 contrários, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta que institui medidas para garantir “a igualdade salarial e remuneratória entre mulheres e homens na realização de trabalho de igual valor ou no exercício da mesma função”.

Uma curiosidade: entre os 36 votos contrários, 10 foram dados por deputadas que compõem a base de oposição ao governo federal: Adriana Ventura (Novo-SP), Any Ortiz (Cidadania-RS), Bia Kicis (PL-DF), Carla Zambelli (PL-SP), Caroline de Toni (PL-SC), Chris Tonietto (PL-RJ), Dani Cunha (União-RJ), Julia Zanatta (PL-SC), Rosângela Moro (União-SP) e Silvia Waiãpi (PL-AP).

Em uma análise rápida e simplista, antes de voltarmos ao que interessa, a atitude dessas deputadas pode ser observada dentro do espectro da incoerência, uma vez que essas mulheres estão prejudicando todas as outras mulheres brasileiras e isso, em teoria, não faz nenhum sentido, é ilógico.

Também pode ser chamado de falta de consciência política já que para se firmar como oposição ao governo, essas deputadas não se importam em prejudicar a maioria da população (as mulheres correspondem a 51,1% dos brasileiros). Ou seja, pensam apenas nos seus objetivos pessoais em vez de se preocuparem com o povo.

O voto contrário delas ainda pode ser um sinal de hipocrisia porque na Câmara dos Deputados, deputados e deputadas ganham salários iguais. E a se julgar pelo voto delas, isso não deveria acontecer. Elas pedirão a redução dos seus salários? Acredito que não.

Nessas horas não tem como não pensar em Simone de Beauvoir, a filósofa feminista que cravou, décadas atrás, o pensamento certeiro: “O opressor não seria tão forte se não tivesse cumplices entre os próprios oprimidos”.

Mas voltemos ao que interessa. Com a maioria dos votos a valor, o texto da deputada Jack Rocha (PT-ES) segue agora para análise do Senado, que precisa aprová-lo para as novas regras entrarem em vigor.

No documento estão previstos mecanismos de transparência e de remuneração a serem seguidos pelas empresas, o aumento da fiscalização contra os fraudadores, e a aplicação de sanções administrativas (com multas) para quem desobedecer às determinações.

Mas se você ainda tem dúvidas sobre a necessidade dessa atualização da lei, seguem provas concretas: Além de serem maioria da população, as mulheres constituem o maior grupo entre os que se formam no ensino superior (19,4%) enquanto os homens são apenas 15,1%.

No entanto, no mercado de trabalho, apenas 37,4% delas têm cargos de chefia. Quando vencem as inúmeras barreiras e chegam neles, essas mesmas mulheres recebem apenas 77,7% do salário que os homens que ocupam o mesmo posto, isso simplesmente porque são mulheres.

Quando não estão em cargos de chefia, elas têm salário médio de 1.985 reais mensais contra os 2.555 reais mensais dos homens. É contra essa discriminação que as novas regras querem atuar. Afinal falar de igualdade salarial é falar de emancipação da mulher.

E, sim, talvez seja por isso que o patriarcado esteja gritando tanto.

Ayne Regina Gonçalves Salviano (É jornalista e professora. Mestre em Comunicação e Semiótica com MBA Internacional em Gestão)

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