O livro do profeta Daniel começa com a informação histórica da invasão e queda de Jerusalém por Nabucodonosor, rei da Babilônia, entre os anos 597 a 587 a.C. Como consequência, a cidade foi arrasada, milhares foram mortos e outros milhares levados cativos à terra da Babilônia, entre eles o ainda jovem Daniel. Ali, conforme o texto houve uma seleção onde alguns judeus foram separados para que, a eles, fossem ensinadas “a cultura e a língua dos caldeus” (Daniel 1.4) durante três anos a fim de servirem o rei como conselheiros e em outros serviços.
A situação para Daniel e seus amigos judeus também selecionados para o curso acadêmico não parecia tão mal assim, afinal estariam próximos ao rei, aparentemente estariam livres dos castigos físicos e do trabalho forçado impostos aos demais prisioneiros de guerra. A única imposição era estudar, algo não tão penoso assim, convenhamos…
Porém, não se engane: havia ciladas e perigos no caminho de Daniel e seus amigos. O teólogo Gene Edwards Veith Jr aponta que “os intelectuais babilônios eram brilhantes e tinham conseguido muitas realizações gigantescas na ciência e na matemática, mas a visão de mundo errada e as superstições pagãs deles eram um verdadeiro obstáculo à sua procura da verdade”. Assim, a Babilônia era considerada o centro do mundo em sua época, o lugar do conhecimento e do prazer, do poder e da religião pagã e ocultista. Havia toda uma cosmovisão que dedicava às dezenas de deuses o mérito de tudo o que tinham conseguido. Poder, religião e política eram inseparáveis e vistas como um sistema a ser perpetuado e valorizado. E esse sistema era tão forte que a Babilônia passou a ser conhecida histórica e biblicamente como o símbolo que representa o ocultismo, o poder do mal e a alienação de Deus. Por isso que em Apocalipse 17.5 o sistema corrompido do mundo e unido contra Deus é chamado metaforicamente de Babilônia.
A intenção nada velada em relação a Daniel e seus amigos era tirar de dentro deles todo o conhecimento e a religião que tinham trazido de Judá. Em primeiro lugar, seus nomes foram trocados e ressignificados conforme a religião da nova terra: Daniel (que significa “Meu juiz é Deus”) passa a ser chamado de Beltessazar (“Que Bel proteja sua vida” – Bel era a divindade babilônica); Hananias (“Javé é precioso) é chamado de Sadraque (“O mandamento de Acu” – divindade dos sumerianos); Misael (“Quem é o que Deus é?”), de Mesaque (“Quem é o que Acu é?”) e Azarias (“Javé tem ajudado”), de Abede-Nego (“Servo de Nebo” – mais uma divindade local). Estes novos nomes expressam a preocupação dos senhores da terra em tirar qualquer resquício da religião judaica de dentro deles e fazê-los se adaptarem à nova realidade da Babilônia. Uma forma sutil de dizer: “Vê, o Deus de Israel não ajudou vocês. Aqui estão novas escolhas que lhes oferecemos de deuses poderosos a quem devem servir.” Na verdade, qualquer lembrança de Judá, de Deus ou da doutrina que eles conheciam deviam ser substituídas pelos novos ensinamentos a que seriam submetidos na “Universidade da Babilônia”.
Você consegue perceber como a história tem se repetido todas as vezes que um aluno cristão vai para a sala de aula ou um jovem acadêmico adentra a faculdade? Historicamente a educação pode ser instrumento de dominação ou manipulação à serviço de uma cosmovisão deformada que aponta para outras referências. Há alguma alternativa? Daniel e seus amigos estudarão a cultura dos babilônios ou irão se insurgir contra o rei? No próximo artigo continuaremos o assunto.
Aguardo você. Até lá, se Deus quiser.
Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento