Quando pensamos em algo “normal” imaginamos aquilo que é previsível, regular, comum ou rotineiro. É assim que a vida estava seguindo. Até que… Bem, a pandemia chegou trazendo todas as alterações inimagináveis em praticamente todas as esferas da vida. O que era normal deixou de ser; e o que era anormal tornou-se a referência. À segurança proporcionada pela vacina seguiram-se os sobressaltos de uma guerra insana e sem sentido que ganha contornos apocalípticos devido ao possível uso de armas nucleares e assim caminha a humanidade. A expressão “novo normal” veio pra ficar e nos fazer lembrar que nada será como antes.
Um dos aspectos mais estudados pelos analistas do comportamento humano é o fato das neuroses, psicoses e toda sorte de falta de saúde mental terem disparado neste período. Culpa da pandemia? Apesar de ela ter criado vários problemas, no entanto revelou aquilo que estava bem escondido debaixo do tapete.

A verdade é que a nossa vida já não estava bem antes da pandemia. Ao olhar para trás percebemos que há muito tempo perdemos o equilíbrio, a sensatez, o encantamento pela vida, a doçura e valores que jamais poderiam ter sido perdidos.

O resultado disso é o esgotamento, a ira fluída, o medo represado e a dureza com que enxergamos o próximo e a realidade à volta. A vida deixa de ser simples aos nossos olhos para ser vista como um desafio complexo, uma arena na qual matar um leão por dia é o menor dos desafios.
Roberto Aylmer, médico cristão carioca e um dos primeiros a trabalhar o conceito de burnout no Brasil, afirma que o número de pessoas afetadas emocionalmente tende a ser maior que aquelas afetadas pela infecção. Esse cenário de medo e incerteza mostra que nossas reservas estão no fim e que nossa capacidade de reação é quase mínima. Ou seja, o imponderável quase sempre está à nossa frente.
Como viveremos? Como poderemos ter uma vida mais próxima daquilo que consideramos normal? A boa teologia nos auxilia e concede respostas adequadas à nossa época. Refiro-me à boa teologia porque, certamente, existe uma que não é tão boa. A teologia pobre sempre vai dizer: “Isso tudo é coisa do Diabo” ou “tem que ser assim para que o mundo acabe logo”. Embora isso seja verdade em alguns limites da esfera revelacional, conceitual e histórica, há algo maior que precisa ser observado. Um bom referencial bíblico para esta época cheia de medo e incertezas é a mensagem do Salmo 4. O contexto desse salmo é alarmante: Davi havia sido expulso da sua casa, do seu trono, do seu palácio e da sua cidade pelo seu próprio filho que usurpou o reinado de Israel. Davi foge e vai se esconder na caverna. Ali ele escreve esse salmo de adoração a Deus mostrando que a preocupação não é com a sua reputação ou com as riquezas que ele perdeu.
Davi revela duas atitudes que servem para nós em tempos difíceis: Primeiro, ele mostra que a fonte da nossa alegria é o Senhor. Ele diz: “Mais alegria me puseste no coração do que a alegria deles, quando lhes há fartura de cereal e de vinho” (versículo 7). Isso mostra que alegria do Senhor era maior que aquela que ele tinha no trono ou no palácio. E em segundo lugar ele mostra que nossa tranquilidade não depende das circunstâncias. “Em paz me deito e logo pego no sono, porque, Senhor, só tu me fazes repousar seguro” (versículo 8). A segurança do salmista não dizia respeito às pessoas, exército, status ou posses, mas ao seu relacionamento com Deus.
Isso não é fuga, é fé; não é simplismo, é simplicidade. Em tempos de pandemia, guerra, medo ou incertezas é isso que vai trazer equilíbrio, alegria e paz à vida.

  • Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)

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