“Esnobismo cronológico” é um termo criado pelo escritor inglês C. S. Lewis para se referir ao pensamento acrítico de alguém que crê que tudo o que surge em nossa época é superior ao que surgiu em épocas anteriores. A ideia contida nessa empáfia é a de que tudo aquilo que ficou desatualizado é, por isso, desprezível – como se a verdade, a dignidade e a virtude tivessem prazos de validade!
A Idade Média é citada no senso comum como sendo a “Idade das trevas” e do atraso por causa de alguns conceitos errados formulados à época, fundamentados pela ciência incipiente e pela autoridade da Igreja. Hoje há diversos vídeos, livros e artigos que mostram que a Idade Média não foi tão obscura assim; muitas manifestações artísticas e descobertas que alavancaram o avanço da ciência se deram naquela época. Como consequência, a Ciência se firmou em princípios verificáveis e a Igreja reconheceu os pontos nos quais ela estava errada.
Generalizações à parte, o trabalho de desconstrução dos pilares da sociedade tem busca o estabelecimento de uma ressignificação dos valores de acordo com o pensamento de uma nova moralidade na qual o homem pode levantar bandeiras que representem um desejo libertário. Neste caso, o que a filosofia definia como “utopia” (a busca pelo amor, justiça e paz) hoje tem sido substituída pela busca da diversidade que substitui o universo pelo “multiverso” das ideias, comportamento e crenças. Assim, o pluralismo cultural e religioso deveria existir na sociedade pluralista com um mínimo de conflito, mas não é o que acontece.
Há que se observar que Jesus diversas vezes afirmou que a relação entre a Igreja e o mundo seria sempre de tensão e interação, ora prevalecendo um lado, ora o outro. Porém, por ser uma instituição que lida com verdades absolutas e que trabalha com a apologética e persuasão através do discurso com vistas à mudança de vida, ela enfrenta resistência daqueles que veem sua mensagem atrelada aos conceitos medievais. Sob a acusação de que a Igreja é retrógrada – por parte daqueles que defendem a pauta progressista – a Igreja se vê na encruzilhada de estar presente no mundo sem abrir mão da mensagem do Evangelho que carrega por mais de dois mil anos. Talvez a rejeição ao Evangelho na sociedade seja a manifestação do medo da moralidade cristã, afinal, a mensagem de Cristo confronta aqueles que perseveram no caminho da prática do erro; prosseguem na valorização do erro; e terminam na defesa do erro, dispostos a banir, censurar, calar ou bloquear quem pensa diferente.
O próprio Jesus enfrentou esses oponentes. Em seus discursos e atitudes, Jesus perturbava os radicais beligerantes, os hipócritas religiosos e os pecadores satisfeitos com sua condição. “Não percebeis que vos é melhor que morra um homem pelo povo, e que não pereça toda a nação” (João 11.50) foi a frase do Sumo Sacerdote Caifás que selou a sentença de morte de Jesus. Com isso o problema seria resolvido e todos poderiam viver normalmente em seu mundo particular. Porém, como disse Tertuliano: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja.” Mesmo que Jesus tenha sido preso, julgado, condenado e morto e, ainda que hoje a Igreja continue constantemente no banco dos réus, não podemos deixar de anunciar a mensagem pacífica do evangelho que chama cada um a arrepender-se dos seus pecados e crer no evangelho (Marcos 1.15).
Rev. Onildo de Moraes Rezende
(Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)