Em 2022, o Brasil comemora seus 200 anos de independência de Portugal. Em 7 de setembro de 1822, o imperador D. Pedro I, às margens do rio Ipiranga, em São Paulo, convocou os brasileiros para uma “independência ou morte”.
Na verdade, que fique registrado aqui também: ele não gritou, apenas comentou entre os poucos que o acompanhavam que não queria mais nada com o governo português, por isso desejava a separação do Brasil de Portugal.
Na semana passada, o 7 de setembro poderia ter servido para uma comemoração exemplar, com uma grande aula de história a partir de análises do passado – desde o momento colônia de exploração – até hoje, quando ainda acreditamos em uma nação forte, que tem como estar entre os maiores e mais ricos países do mundo.
Mas a verdade é que a celebração foi “brochante”, só para usar uma palavra que marcou o dia.
Já pensou, leitor, se nos 200 anos de independência do Brasil fosse ensinado algo mais do que as aulas dos livros de história dos colonizadores? Não seria bom que descobríssemos, todos, que D. Pedro era, na verdade, um homem fraco, inseguro, e que a independência só aconteceu porque dona Leopoldina, a primeira esposa, agiu diretamente para convencê-lo de que era o melhor a fazer?
Foi ela, inclusive, quem presidiu a reunião emergencial que definiu a independência do Brasil. A carta enviada após esse encontro foi a responsável por fazer d. Pedro declarar a independência.
Nos 200 anos da independência do Brasil, os brasileiros poderiam saber também que o quadro mais famoso do fato histórico não passa nem de longe perto da realidade. A obra “O Grito”, do pintor italiano Pedro Américo, feita em 1888, portanto 66 anos após o ocorrido, na verdade foi mais uma estratégia para criar o mito do herói.
A verdade, de acordo com os historiadores que se debruçaram por anos sobre os fatos da independência brasileira, é que D. Pedro nem estava tão disposto, pois havia sido acometido por uma forte diarreia por dias.
Também não estava montado em um cavalo imponente, mas sim em uma mula. Esses animais estavam mais adaptados às longas viagens por terrenos ruins.
As roupas elegantes que aprecem na imagem seriam impossíveis de serem usadas no clima tropical brasileiro. Mas a incoerência principal é que a própria guarda imperial, conhecida por Imperial Guarda de Honra e o Batalhão do Imperador só foi criada em outubro de 1822, portanto um mês depois do aconteceu.
Por fim, não havia dezenas de pessoas no local, como retrata o quadro. Eram aproximadamente 8 pessoas próximas do imperador e uma comitiva de 15 outras pessoas.
“O Grito” foi restaurado e está no Museu do Ipiranga, em São Paulo, reinaugurado no último dia 7 de setembro depois de nove anos de restauração e reformas do prédio. Com certeza, o maior e melhor presente dos 200 anos da independência. O museu é um dos locais obrigatórios que os brasileiros deveriam conhecer para entender todos os detalhes que trouxeram nosso país até os dias atuais.
Quem sabe se, aprendendo com os erros e acertos do passado, os brasileiros possam analisar melhor o presente e construir um futuro onde, pelo menos, em datas importantes, fale-se mais sobre história do que sobre histórias da carochinha ou lendas urbanas, como homens que nunca brocham.

  • Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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