Na atualidade, as redes sociais se integraram à vida cotidiana dos homens em todo o mundo. As plataformas online revolucionaram a forma como as pessoas se comunicam, compartilham informações e interagem umas com as outras. A influência delas trouxe para a sociedade contemporânea desafios, benefícios e, contraditoriamente, amplas implicações em todo o espectro das atividades humanas (Machado; Silva; Maia, 2015).
Entre esses desafios, destacam-se: amplitude das redes sociais, conectividade e interação social, acesso à informação, formas de empoderamento e ativismo, privacidade e segurança, desafios e preocupações que produzem impactos (positivos e negativos) no indivíduo e em todo o tecido social, indistintamente (Souza; Moraes, 2021).
Embora as redes sociais aportem benefícios significativos, há que se reconhecer a existência de desafios e preocupações associados a seu uso. O vício em redes sociais e seus malefícios, podem afetar negativamente a saúde mental e emocional dos usuários, infundindo problemas como ansiedade, depressão e isolamento social (Souza; Cunha, 2019; Melo et al., 2023).
Para os jovens, a exposição constante ao mundo virtual reverbera diretamente na saúde mental, na forma como eles se percebem, interagem e se conectam com a vida, com os outros e com o ambiente em seu entorno (Comin; Sores; Mombelli, 2024).
As pessoas dependentes consomem mais tempo acessando as redes sociais do que com atividades cotidianas, momentos de lazer e descanso, e acabam em um ciclo vicioso (Souza; Cunha, 2019).
A constante conexão com as redes virtuais impacta a relação que o sujeito estabelece com seu próprio corpo, criando, sob influência da mídia e redes sociais, obsessão pelo corpo perfeito (cultura da estética corporal perfeita), bem torneado, cobiçado (Lira et al., 2017) – uma vitrine virtual a exibir corpos e personalidades “perfeitas” (Souza; Cunha, 2019). A imagem do corpo construída na mente, as percepções, sentimentos e pensamentos relacionados ao próprio corpo seguem influenciados por valores contemporâneos de estética corporal (Silva; Japur; Penaforte, 2020).
Lidar com a frustração que se acumula dia após dia com o uso constante das redes sociais pode constituir um desafio, mas também um benefício. Lidar com a frustração força a busca por formas saudáveis de expressar emoções e recuperar o equilíbrio interior perdido no confronto entre ideal e real, melhora a autocompreensão, desenvolve a resiliência, ajuda a selecionar atividades que aliviam o estresse como praticar técnicas de relaxamento e desenvolver habilidades de enfrentamento eficazes para superar desafios presentes e futuros (Borges, 2019).
A frustração faz parte da inteligência emocional (Woyciekoski; Hutz, 2009) e se manifesta quando não se atinge uma expectativa, uma aspiração/desejo ou uma demanda considerada exorbitante (Faiad; Pasquali; Primi, 2017).
A frustração pode – e deve – desenvolver a resiliência no ser humano: “ser resiliente é dominar a dualidade da vida. É ter um pé firmemente plantado na ordem e na segurança e outro no caos, na possibilidade, no desconhecido, no crescimento e na aventura” (Baihé, 2020, p. 6). É aprender a discernir, mensurar e orientar-se com firmeza entre o real e o imaginado, o possível e o desejado, o renunciado e o invejado, o crível e o incrível, mesmo que se tenha de passar pelo aprendizado da frustração.
É preciso aceitar a vida que se tem. Amar a vida como ela se apresenta é aceitação incondicional da vida (Nietzsche, 2012). Se as redes sociais facilitam a utopia, há de se contrapor reconhecendo a realidade e valorizando o que se tem (Soares, 2017): a utopia pode parecer uma fuga, evasão para um refúgio irreal ou artificial, mesmo que, em algum momento ou circunstância, ela tenha uma fecunda articulação com a realidade, ou uma forma alternativa para a realidade.
André Marcelo Lima Pereira
(Psicólogo clínico na Unidade de Reabilitação Lucy Montoro – Fernandópolis, também professor na Universidade Brasil nos cursos de Medicina e Psicologia)