No artigo anterior vimos como o jovem Daniel e seus amigos foram parar na Caldeia, como também o processo de escolha para ingressaram na “universidade da Babilônia” a fim de aprenderem a cultura e a língua dos caldeus (Daniel 1.4). O aprendizado cumpria um ideal de desconstrução intelectual e religiosa em relação ao que tinham aprendido em Israel anteriormente, visando formar novos cidadãos com pensamentos uniformes e firmemente adaptados à nova realidade da terra em que viviam, afinal, a melhor forma de domesticar o povo recém-chegado era ensiná-los a seguir e absorver novas diretrizes sob as quais deveriam viver – sempre a mesma tática que envolve o uso da ideologia dominante amortizada pelo privilégio de assistirem nos palácios do rei.
A conexão aos nossos dias é feita imediatamente, pois nossa história atual também é marcada pela fenomenologia do ideologismo educacional que visa formar cidadãos acríticos que levantem a bandeira da diversidade sem, porém, terem direito a serem diferentes sem sofrer com isso. No caso de Daniel e seus amigos, qual atitude tomar: assimilação ou separação? A opção pela primeira alternativa faria com que internalizassem a cultura babilônica como um estilo de vida a ser abraçado ideologicamente e defendido como tal. Vencida as tradições judaicas, o novo conhecimento adquirido seria o fundamento de uma cosmovisão que enxergava a religião, o governo e o mundo como uma unidade povoada por muitas divindades que dão sentido ao curso da vida e aos acontecimentos.
A outra opção envolve o risco da rebelde separação e negação do ensino, porém, sujeitos à perseguição do rei decorrente do fato de terem resistido à sua vontade. Muitas vezes esse “mundo louco e suas sujeiras” são um convite para que cristãos se sintam tentados a viverem no mosteiro, no deserto, na caverna, no convento ou no alto da montanha para não se “contaminarem” com as “imundícias do mundo”. Muitas seitas e grupos religiosos surgiram com essa intenção. E falharam constantemente.
Daniel e seus amigos tomam um caminho melhor, a opção pela participação qualificada, que consistia em aprender o que pudessem, reter o que era bom para fazerem a diferença naquele mundo estranho sem, com isso, abrirem mão da fé em Deus e em sua Palavra. Dessa forma, todo novo conhecimento adquirido seria interpretado à luz de uma cosmovisão e entendimento do qual eles não iriam abrir mão jamais. Todo cristão pode aprender tudo sobre qualquer matéria, desde que analisadas à luz de uma visão de mundo maior e mais abrangente que aquelas que colocam Deus e sua Palavra à parte das coisas observadas e do mundo vivido (Dn 1.18-20). Todos os dias nós, cristãos, assistimos, lemos, vemos e ouvimos muitas coisas que devem ser comparadas com o ensino da sabedoria bíblica, tornando-nos críticos e submissos à Palavra de Deus e não omissos ou alienados.
Convém lembrar que muitas universidades americanas e europeias tiveram origem nos postulados cristãos de investigar e conhecer tudo para a glória de Deus. Algumas começaram limitadas à formação de líderes para melhor desempenho pastoral nas igrejas. A ideia é que quanto mais conhecimento eles tivessem, tanto mais preparados para combater a ignorância e a incredulidade estariam.
Se você está submisso à Palavra de Deus, se ela é o fundamento sobre a qual sua visão de mundo está sustentada, então não tenha medo das ideologias e do estudo dos diversos saberes do conhecimento humano. Elas podem enganar muitos e dogmatizar uma nação inteira, mas não poderá destruir a fé de alguém que vive para a glória de Deus.
Rev. Onildo de Moraes Rezende (Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)