No passado, a igreja permitia o sexo para procriação. Fora desse propósito, ele ganhava o nome de pecado. Então o psicanalista Sigmund Freud ensinou a humanidade que sexo era prazer. Essa dicotomia (pecado e prazer) ainda confunde os brasileiros.
As múltiplas visões que temos sobre o sexo – moral, religiosa, patriarcal e até libertadora – mostram, diariamente, que o tema precisa ser discutido abertamente. Caso contrário, o país continuará sofrendo, todos os dias, com crimes que vão da pedofilia à cultura do estupro vitimando dezenas de pessoas por dia, milhares a cada ano.
Sem nenhuma comprovação científica, mas a partir dessas constatações, tenho para mim que o brasileiro é um povo muito mal resolvido sexualmente. Primeiro porque vê sexo em tudo. Depois, porque além de não saber lidar com sua sexualidade, ainda quer dar conta da vida sexual alheia.
Vejam o caso da atriz Cláudia Raia, por exemplo. Na semana que passou, durante uma entrevista a um programa de TV, quando ela se sentiu acuada pelas entrevistadoras por causa de seu primeiro casamento com Alexandre Frota, que já foi ator pornográfico e hoje é político do PSDB, a atriz disparou: “mas a cantora “tal” perdeu a virgindade com ele”.
Sim, Cláudia Raia expôs uma particularidade da vida íntima de uma cantora famosa e respeitada no país. Ainda que tenha sido verdade o fato relatado por ela, ainda que seu ex-marido tenha lhe contado essa intimidade, ela não tinha o direito de expor a outra pessoa. A vida sexual de cada um só diz respeito aos envolvidos. Mas o brasileiro adora ser o juiz do sexo alheio.
O Brasil inteiro tem problemas com a sexualidade alheia. Somos, infelizmente, o país que mais mata pessoas do grupo LGBTQIA+, por exemplo. Por que? Por preconceito, dirão alguns. Prefiro expor outras possibilidades por meio de filmes, que podem ser traduzidas em masculinidade tóxica e, no caso de Raia, por estupidez mesmo.
Quem assistiu a “O Segredo de Brokeback Mountain” entenderá bem a ideia que pretendo abordar. Na história, dois cowboys (sim, olha o símbolo dos machões aí) são impedidos de viver sua história de amor porque não conseguem assumir sua orientação sexual para a sociedade. Vivem e morrem infelizes.
Mais recentemente, outro filme, “O ataque dos cães”, trouxe a mesma problemática. Um cowboy (de novo e não à toa – o estereótipo do machão), que passa por problemas de sexualidade, inferniza a vida do irmão recém-casado e do enteado afeminado dele para, em um comportamento tóxico, tentar esconder que é gay.
O que sexo, pecado, prazer, Cláudia Raia, masculinidade tóxica, transfobia, pedofilia e cultura do estupro têm em comum? Falta de educação sexual. Quem está pronto para essa conversa?
Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)