A novela Pantanal, cujos últimos capítulos serão exibidos pela Rede Globo, nesta semana, apresenta a idealização genuína da cultura de um povo de um lugar, bem como fauna e flora belíssimos de um dos biomas mais abundantes em riquezas naturais do território brasileiro. Entretanto, ao ser feito um paralelo entre a realidade e a ficção, a novela acaba por apresentar uma versão utópica da realidade abordada, a qual foge do contexto atual desse bioma, o qual integra importante patrimônio natural do país. Assim, reflexões acerca do imbróglio, o qual parte do pressuposto da luta pela valorização e proteção desse rico e diverso espaço natural.
Conhecido apenas pelo futebol e carnaval, o Brasil, felizmente, despede-se dessa dupla atroz ambiguidade e passa a ser reconhecido pelas inúmeras belezas naturais e culturais que integram a identidade do país em suas áreas de cerrado e bacia do Paraguai. Quando do desbravamento dessas áreas, essas ocorreram como modo de identificação do território por intermédio de expedições realizadas pelos bandeirantes, como Borba Gato e Fernão Dias Pais, os quais se propuseram a desbravar essas regiões com o fito de descobrir pedras preciosas e capturar indígenas como mão de obra barata. Passados séculos, cobiçadas riquezas permanecem, mas resta ao corpo social brasileiro significativa dificuldade de valorizar esse meio, mesmo munido de direitos e deveres para com o espaço físico em questão, porém a sociedade não deixa de perceber o definhar do Pantanal devido a ganância humana.
De acordo com a atriz Fernanda Montenegro, um país sem arte e cultura não possui caráter. Sob essa ótica, é nítido o quanto arte e cultura possuem enorme poder de vida e, por sua vez, enaltecem povos ávidos disso e por isso. Certamente, há patrimônios naturais no Brasil que merecem ser redescobertos, e por conseguinte, enaltecidos por meio dessas. Porém, além de exibir a idealização maquiada do belo igualzinho à realidade, a Rede Globo revigora em verde e amarelo um local por demais surrado pelos incêndios de 2020 e 2021 como se a biodiversidade, agora, fosse inteirinha ser restaurada após criminoso fogo humano, o qual recebeu até a alcunha de O Dia do Fogo.
Assim, distante do mundo figurativo há um Brasil que clama por cuidado e reconhecimento. Logo, para a efetivação desses atos é preciso que haja substancial mobilização social, sendo esta a chave para a reflexão e redescoberta harmônica e eficaz, visto que, de acordo com Durkhein, é preciso sentir a necessidade da experiência e da observação, ou seja, a necessidade de sair de si próprio para aceder à escola do vivido. Assim, formar-se-á uma sociedade munida dos direitos que lhes são devidos e um Brasil cujo território obterá reconhecimento e veracidade muito acima da trama ficcional, em direção à realidade.

  • ARTHUR REZENDE DA SILVA (Aluno do curso de redação do Centro de Educação Professor Marcondes)

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