A cena é bastante corriqueira: no almoço dominical da família, na faculdade ou na roda dos amigos sempre há alguém para dizer que “o cristianismo está atrasado, devemos confiar na ciência, o ‘crente’ é radical e intolerante” e pensamentos afins. No meio da roda o cristão se cala, afinal, se tornar o centro dos olhares críticos e vítima de gracejos ferinos ferem tanto quanto o desprezo escancarado (a isso chamam bullying, não é?).
De certa forma, as pessoas vivem pressionadas pelas exigências da época em que vivem. Para os cristãos a intolerância religiosa tem se tornado algo amargo contra o qual precisamos aprender a lidar, afinal, diante da pressão que a maioria exerce a tendência é relaxar nos conceitos e comportamentos a fim de ser aceito pelos demais. Embora seja natural estabelecer vínculos sociais e querer ser aceito pelo grupo, alcançar essa aceitação rebaixando os padrões de crença e comportamento faz com a pessoa perca sua liberdade e identidade.
A não ser, porém, que a pessoa tenha propósitos bem definidos em relação a seus padrões e crença. O livro de Daniel capítulo 3 narra uma história de jovens que não se dobraram e nem se rebaixaram às exigências do rei ou à prática da multidão. Como vimos em artigos anteriores, a Babilônia havia construído um império admirável cuja extensão cobria grande parte do Oriente Médio. Amparado por tantas conquistas, o rei Nabucodonosor se exalta e manda construir uma imagem de ouro de 27 metros de altura e 2,70 de largura, exigindo adoração de todos os cidadãos sob sua autoridade. A ordem era inflexível: “Quando ouvirem o som da trombeta, do pífaro, da cítara, da harpa, do saltério, da flauta dupla e de toda espécie de música, prostrem-se em terra e adorem a imagem de ouro que o rei Nabucodonosor ergueu. Quem não se prostrar em terra e não adorá-la será imediatamente atirado numa fornalha em chamas” (Dn 3.5,6). A ameaça era deliberadamente hostil a qualquer tentativa de manifestação de resistência à ordem real. Nessa situação de extrema pressão de grupo, três jovens judeus se mantiveram em pé no momento em que os instrumentos musicais foram tocados e todos se ajoelharam. Levados à presença do rei, recusaram se retratar e foram jogados dentro da fornalha ardente, da qual saíram ilesos, para assombro e espanto de todos.
Este episódio transmite algumas verdades para a vivência cristã em tempos sombrios como os que vivemos. A primeira, é que a fidelidade a Deus deve ser incondicional. A fornalha representa o alto preço que a pessoa terá que pagar pelas decisões corretas que tomou pelo fato de querer ser diferente do que a maioria faz ou pensa. A segunda, é que mesmo a fornalha pode ser uma experiência surpreendente. Além de servir de testemunho para os que são inconstantes e frágeis na fé, causa identificação com o Salvador, afinal, Jesus também enfrentou oposições, acusações e desprezo.
Mas uma questão muito relevante nessas situações que envolvem pressão de grupo é: A quem queremos agradar: os amigos ou a Deus? Os amigos são tão importantes a ponto de nos fazer virar as costas para aquilo que é bom, virtuoso e louvável? A fé é tão pequena a ponto de ser abandonada para não ser envergonhado pelos colegas? Uma sociedade valorosa é formada por pessoas de princípios firmes e resolutos, que não se dobram às influências e exemplos dos que deformam a virtude e fé em vergonha e fraqueza. Olhe para Cristo, ele foi diferente. E venceu!
Rev. Onildo de Moraes Rezende
(Pastor da Igreja Presbiteriana de Jales, Bacharel em Teologia, Licenciado em Pedagogia, Pós-Graduado em Docência Universitária, Mestre em Aconselhamento)