Escolhi ser mãe. Mas faço parte do grupo de pessoas que entende, perfeitamente, quem não deseja esse papel social. Há muita romantização e pouca compreensão do que essa decisão incide na vida de uma mulher.
Vou ilustrar o raciocínio usando figuras conhecidas, a começar por Maria, a mãe de Jesus. Quantos humanos suportariam a dor de ver um filho preso injustamente, torturado e morto sem motivos? Como acompanhar o calvário e prosseguir a vida depois? E são tantas as Marias hoje.
Agora pense na história do Rei Salomão. Conta-se que duas mulheres disputavam uma mesma criança. Levadas diante do rei, ele mandou os soldados partirem o bebê ao meio e cada uma levaria uma parte dele. Só uma das mulheres se apressou em desistir do menino.
E foi a ela que Salomão deu a guarda porque entendeu que só uma mãe de verdade é capaz de dar seu filho a outra para vê-lo sobreviver. E são tantas as mães que ainda precisam abrir mão dos seus filhos para eles conseguirem sobreviver.
Agora vamos pensar nas mães de Esparta. Após o parto, elas tinham seus filhos examinados pelos anciãos. Os bebês considerados fracos, doentes ou com alguma deformidade, eram abandonados para morrer, jogados em um poço.
Pensem na dor diária de uma mãe que depois de parir, vê o filho sofrer por causa de um grupo que determina quem é bom e quem não é para viver em sociedade. E são tantas as mães de Esparta hoje, que assistem aos filhos em dores permanentes, físicas e emocionais, por causa da sua aparência, fragilidade ou deficiências. Na pós-modernidade, são jogados no poço do preconceito.
Assim, o mito da mãe perfeita, cultuado pela sociedade patriarcal, é um fardo pesado demais e só deve carrega-lo aquela que desejar. E a data do Dia das Mães, comemorada hoje, é só um apelo comercial, o “segundo Natal”, de acordo com os lojistas, que não ajuda em nada na discussão do papel da mulher na sociedade.
Repito: fui mãe por opção. E seria todas as vezes que me perguntassem, especialmente se o pai fosse o Mauricio e meus filhos sempre o Eduardo e a Verônica.
Fui mãe por opção também porque tive a sorte de nascer de uma mulher maravilhosa, que escolheu ser mãe, cuidou e ainda cuida das filhas, que nos proporcionou realizar todos os meus sonhos, que nos ensinou ser honestas e caridosas. Obrigada, mãe Neusa! Todos os dias eu agradeço por ter você na minha vida.

Ayne Regina Gonçalves da Silva (É jalesense. Jornalista com mestrado em Comunicação e Semiótica. Professora especializada em Metodologia Didática. Franqueada da Damásio Educacional em Araçatuba e Birigui)

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